quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

ano velho, ano novo

Chegou o fim do ano e sou, mais uma vez, tomada por aquela sensação de "missão cumprida" misturada com "faltou alguma coisa". Acho que, se pudesse, teria prestado mais atenção nas gotas de chuva caindo na minha janela ou talvez teria comprado aquela samambaia que sonho lá pra casa. Quem sabe, se tivesse tido mais tempo, teria lido mais livros da minha lista ou até mesmo andado com mais atenção pelas minhas ruas preferidas da cidade. Foi um bom ano... mas se eu pudesse voltar, teria feito menos coisas contra a minha vontade e mais coisas pra ajudar os outros.
Quem sabe arrumaria uma nova profissão: a dobrar as nuvens ao final de todas as tardes e guardá-las numa gaveta para que, com o céu limpo, a Lua reine soberana. Minha chefe seria a Lua e a humanidade precisaria de mim mesmo. Só me resta projetar para o ano recém-nascido mais força.
Quem sabe um dia, não dobrarei as nuvens mesmo!?

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

primeiro natal

Tudo pronto pra festa! A família já pode se sentar em volta da mesa, os enfeites foram cuidadosamente preparados, a árvore com luzinhas, os laços dos presentes, muitos sorrisos e abraços. Meu coração chega a ficar gordo de vontade de ser cada ano mais feliz. E desejo sempre o dobro e o triplo disso pra minha gente. Por isso, o clima de Natal é sempre um dos meus preferidos do ano.
Mas, só agora me dei conta que vai sobrar um lugar. O seu. Uma vez ouvi que a gente só sabe o que é Natal de verdade quando passa muito longe de pessoas que amamos. Como eu era muito mais nova quando ouvi isso, não dei nenhuma importância.
Hoje, véspera do meu primeiro natal sem seu rosto perto do meu, vejo quanta verdade tinha naquelas palavras... Afinal, hoje vai faltar alguém aqui. Vai sobrar um presente especial embaixo da árvore. Vai ficar um buraco no meu coração (mais uma vez). Vão sobrar lágrimas no travesseiro, muito mais do que sobraram ontem e anteontem.
Mesmo assim, te desejo um feliz Natal, onde você estiver.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

madrugada escura

E daí que nessa madrugada, às 4 horas, meus olhos queriam olhar a escuridão a qualquer custo e, por isso, se abriram contra minha vontade.
Uma parte de mim queria muito adormecer e fazer o corpo descansar. A outra desejava imensamente que você estivesse aqui, ao alcance das minhas mãos, do meu lado.
Venceu o lado que te queria bem perto de mim. Me entende? É que eu precisava riscar da minha lista algumas perguntas ainda não-respondidas, dúvidas que, temo, acabem por me consumir inteira qualquer dia desses.
Mas não. Restou mesmo olhar pro teto branco, chamuscado com uma luz bem fininha que entrava escondida pelas dobras da persiana. Sobrou também apalpar as paredes no escuro até chegar na porta e, da porta, chegar até a sala... e por aí vai. Caminhei, bebi água e voltei pro meu travesseiro que, agora, estava gelado.

É impressionante como algumas coisas ficam mais claras no escuro!


quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

euzinha

Gentem, ótima dica! Veio do blog do miojo. Dá pra descontrair e "se ver" um pouco de fora da situação, do dia a dia... Me entende?
Faça você também!


1 . Antes só do que… mal amada.
2. Minha casa em três palavras: bons livros, bons filmes, boa música.
3. O melhor de morar só: ler em voz alta sem importar a hora.
4. O pior de morar só: não tem ninguém pra buscar a comida lá embaixo.
5. O que não falta na minha geladeira: doce de leite
6. Antídotos contra a solidão: álbuns de fotografias.
7. As três últimas coisas que comprei: enfeite de natal, sapateira e algodão.
8. Quem eu adoraria levar para casa: Gabriel García Márquez.
9. Quem jamais vai sentar no meu sofá: a má-drasta.
10. O que ando lendo: Clarice, Cecilia e Vargas Llosa.
11. A trilha sonora do momento: Los Hermanos, Little Joy e Roberta Sá
12. Uma receitinha esperta: Leite condensado, chocolate e manteiga.
13. Mania assumida: bagunço, bagunço e, bemmm depois, limpo.
14. Uma frase que me move: “Garçom, traz mais uma!..."

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

sem pretensões

Foi quase que num passe de mágica que o desânimo dele se escafedeu. Ao colocar os pés no Museu do Futebol, instalado no Pacaembú, ele sorriu que nem criança. Fazia um sábado quente e sonolento e, apesar de não querer ir no início, ele sentiu satisfação por eu ter insistido na idéia.

Já na primeira exposição, homenagem ao Rei Pelé, ele percebeu que aquela volta no museu seria mais que um passeio. A bola dos 1000 gols, os uniformes, os vídeos, os títulos todos, o tal gol "de placa", as chuteiras eternizadas em fotos bem antigas! Um errinho e outro no registro das informações não passaram despercebidos, claro! Ele já sabia de tudo aquilo - só que nunca tinha visto tudo junto, em uma coisa só.

Na sala "grande área", a mistura de poesia e futebol deu o tom à sucessão de imagens de pés jogando bola. Rivaldo, Rivelino, Sócrates, Zico, Roberto Carlos e tantos outros fenômenos em ação. E na sala das gravações, ele parou na locução que mais lhe fazia tremer: a do gol que o fez palmeirense em 1993!! Uma porta giratória depois, e caímos na "sala das torcidas"... Por ser embaixo das arquibancadas do estádio, o espaço (muito quente, por sinal) reúne imagens de câmeras que flagraram somente expressões de torcedores! O resultado? - os gritos, caras e bocas das principais torcidas do país tiram o fôlego até do visitante mais desavisado! Tem horas que é como se estivéssemos em baixo do bandeirão de uma torcida animada depois de um golaço!

Na "sala das copas", mais emoção. Displays em formato de taças contam toda a história, com trilha sonora de cada época. Nessa hora, ele sumiu da minha visão... Encontrei-o em frente à foto da seleção da copa de 50, aquela que perdemos bem aqui em casa, no Maracanã novinho em folha. Na cara dele e na imagem dos jogadores, só silêncio... E, claro, ainda tinha mais: bandeiras, informações sobre todos os clubes brasileiros (o LEC tb!!), imagens em 3D e o pênalti que todo mundo pode bater!

Enquanto esperava na fila do chute, o olhar dele parou em uns guris que jogavam bola num campo virtual. Acho que tentava encontrar na memória o porquê de não ter sido um jogador de futebol, um sonho antigo... Imaginou-se um meia pra criar passes mágicos, um centroavante inteligente ou um atacante que finaliza como ninguém! E tudo o que tinha visto ali só sublinhava ainda mais a sensação que ele tinha de nunca ter se sentido tão à vontade, tão em casa como naquele sábado que, de sonolento, não teve nada...

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Apesar de uma ou outra informação fora de lugar (que já deveria ter sido consertada) e da falta de um ar condicionado funcionando, o Museu do Futebol cumpre um papel importante. Ele reúne o que temos de curioso e, talvez, precioso sobre o futebol (sem privilegiar um time ou outro). Mostra também como o Brasil transformou um esporte que veio de longe... Além disso, em tempos de gurizada que só quer saber de camisetas oficiais de times europeus, o Museu é um passeio despretensioso e interessante.




Tubarão! Tubarão!

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

aquele beijo de boa noite ainda queima em minha boca, nem o café esconde o gosto.
em sonhos vejo o teu rosto.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

quando você foi.

"Vocês já notaram que sempre que alguém que amamos morre, cai uma folha de árvore, passa uma nuvem, um passarinho começa a cantar triste, o cadarço do sapato desamarra, anoitece de repente, começa a chover ou a parar de chover? São sinais que precisamos decifrar"

Fausto Wolff, A milésima segunda noite.

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Quando você foi embora (pela porta da frente sem dizer adeus) caiu uma folha da jabuticabeira do quintal, passou uma nuvem em formato de um dragão, um pardalzinho cantou bem triste, o cadarço do meu all star desamarrou, anoiteceu de repente, choveu e depois parou.

Eu preciso decifrar tudo isso pra poder seguir em frente.
E pensar que sinto tanto sua falta...

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

história de saudade

sem caber de imaginar até o fim raiar.

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Sábado, 03 de Janeiro de 2006 12:48 pm
De: "maria aparecida"
Para: "Verena Ferreira"
Assunto: RES: senta que lá vem história

Oi, minha filha querida. Que bom ouvir notícias suas!! Também estou com mui-tas saudades.
Ainda bem que tenho tido mui-to trabalho, assim não dá tempo de sofrer com sua falta, sua distância!
Já é 1 da manhã. Daqui a pouco partimos pra praia. Que delícia... Você bem que podia estar aqui com a gente... Mas da próxima vez, iremos juntas, taá bom? Escrevo depois contando como foi.
Se cuida ai.
Beijos amo amo amo mais que tudo.

sua Mãe.
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Sexta-feira, 02 de Janeiro de 2006 01:56 pm
De: "Verena Ferreira"
Para: "maria aparecida"
Assunto: senta que lá vem história

Oi, mãeee! Estou bem, graças a Deus. Depois da semana de ano novo, tudo ficou mais calmo por aqui. (As festas por aqui foram bem legais. Tudo muito divertido, com muito pisca-pisca, lareira e chocolate quente). Agora, terei folgas e poderei escrever mais, falar mais, contar mais, matar mais minhas saudades loucas.
Aquele dia liguei porque tava escutando música e me baixou uma tristeza misturada com saudade, bem de repente. Sei lá! Teve o lance da vó da Pri que morreu também. E ela aqui, tão longe de tudo, chorou tanto tadinha! E eu lá, chorando junto. Fiquei imaginando a mesma coisa: eu aqui a milhões de quilômetros de distância e se acontece com algum de vocês aí? Credo!! E rezei. Rezei muito e pedi pra que nada aconteça!
Ontem lavei roupas o-dia-todo. Calcinhas, meias e blusas pesadas que, com a calefação secam rapidinho. Peguei emprestado o som da Flávia, pus na cintura e, chacoalhando o esqueleto, lavei tudo. Detalhe: algumas camisetas encolheram! Ok, ok, tá tá... vc me avisou! Agora aprendi que o calor do quarto tava muito intenso e, por isso as roupas encolhem mesmo! Aos poucos vou me ajeitando e tudo fica mais fácil. ;-)
Hoje saiu o calendário de atividades do mês e me inscrevi em um monte de coisas. Quero me manter ocupada pra visitar todos os lugares possíveis e me manter ocupada o suficiente pra não sentir tanta saudade assim! É incrível minha vontade de sair e conhecer as coisas, mãe!!! O mais legal vai ser um jogo de futebol americano que vamos ver no dia 18, em Denver. Não entendo nada sobre aquele monte de homens correndo, mas E-B-A! La la la la! Tô me achando, né? Também me inscrevi pra ir no "snowshoeing" - é como se colocássemos duas raquetes nos pés e saíssemos andando pela neve. Ok, é idiota (e acho que nem tenho fôlego pra isso), mas parece divertido! Uhuhuhuhu! Ahhhhhh e, claro, fui patinar ontem! Enchemos a quadra só de brasileiros - aliás, é incrível como fazemos amigos facilmente aqui! Acho que somos viajantes cheios de saudade e vontades pra dividir. Tomei um tombo e tal... mas foi surreal. Gravei um filminho e depois mando! E, sem esquecer, amanhã vou ESQUIAR pela primeira vez! Medo! Que eu não quebre nenhum osso!!!
Bem, vou ficando por aqui... O telefone fica tocando e só pra escrever esse email levei horas. A gente vai se falando. Novidade é o que não falta por aqui.
Fica com Deus, se cuida e não ligue pros problemas! Você mesmo me disse que os imbróglios acontecem pra nos fortalecer, não é? E aproveite a praia por mim também!!! Estou tão branca que pareço a Branca de Neve! E também mande notícias do povo aí.
Te amo sem caber de imaginar - mais que sorvete de baunilha!
Três beijos - um no seu coração e um pra cada uma das meninas!



PS - E, em breve, tem o meu dia - meu aniversário. Prefiro não pensar... Pula isso.
PS 2 - E a viagem pra NY? Estou com medo... certeza que vou me perder lá.

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quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

"O amor é difícil
mas pode luzir em qualquer ponto da cidade.
E estamos na cidade"

Ferreira, o Gullar

Sampa vista do alto

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

de novo

Ei, tenho que te dizer que aquele sonho ruim, que aperta meu peito e faz doer meu estômago quando acordo, tem seguido um movimento vai-vém. É só fechar meus olhos e dormir que o caos se intala dentro das minhas pálpebras. Hoje mesmo, tudo voltou...

A cena é a mesma: meu telefone toca e ouço a notícia: você mo-rreu. E de repente, a dor aDORmecida volta e faz tudo virar buraco. E eu nem falei com você antes do seu último suspiro. E mundo fica mais fosco por causa das lágrimas infinitas.
Toda vez que o sonho volta, vem também as saudades e um medo desmedido. Por isso, não faço questão de disfarçar a minha urgência de passar as mãos em seus cabelos já findos e ver você sorrindo, antes de você ir...

E o que faço agora?
Minhas lágrimas aparecem sem vergonha e não dão mostras de que vão secar. Nunca mais? Por que você teve que me negar sua convivência quando te procurei? Por que virar o rosto pra mim na rua? Por que? Por que?
Mas você não pode mais me ouvir, nem lembrar. Você se foi. Não há mais dores, mas também não há mais você.
Choro choro choro. E...


Abro os olhos. As meninas me rodeiam pra saber o que houve. Chove lá fora. E aqui dentro dos meus olhos. Suor, lágrimas de verdade, desespero. Disseram que eu grito seu nome noite-sim e noite-não e acordo sempre chorando, com o peito estufado de tão rápido que bate meu coração. Não sei o que dizer a elas, porque não dá pra explicar a dimensão de tudo isso...

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Procuro não parar mais pra pensar na saudade que tenho de você e eu, eu e você. Ela é que de vez em quando salta na minha frente.
Aí, o jeito é tentar dar as costas pra essa dor (que parece rir de mim).

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Medo?

E daí que até a Mônica se rendeu aos encantos da paixão e finalmente desonrolou seu caso com o Cebolinha!! Depois de décadas trocando coelhadas, os personagens finalmente partiram para um belo de um beijo romântico. Sim, o episódio está no quarto número da HQ Turma da Mônica Jovem, que retrata a turminha com 15 ou 16 anos.


Que as coisas mudam quando a gente cresce, eu já sabia!!! Só não imaginava que as figurinhas indefesas do meu gibi preferido (quando eu media menos de um metro) fossem pelo mesmo caminho! Além do beijo pouco provável, a nova fase da turma traz um Cascão crescido e que toma banho, mas não sempre; uma Mônica que fez regime e deve botar silicone em breve e um Cebolinha, agora chamado de Cebola, que recorreu a sessões de fonaudiologia e só troca a pronuncia dos “r”s pelos “l”s quando está nervoso.


Segundo o pai de tudo isso, Mauricio de Sousa, esse é o primeiro beijo da Mônica e do Cebola e as mudanças não vão parar por aí. "Já houve bitoquinha de criança, no rosto, mas beijo de paquera e de começo de namoro é o primeiro". Eu só espero, de fato, que esse romance pare nas bitoquinhas -- imagine só: "Turma da Mônica - censurado para menores de 18"? Vai ficar TUDO tão complicado a partir de agora...





Tudo muda. Depois dessa, vai chover canivete.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

meu "nós"

É que meu coração tem batido mais rápido que o seu. E você não parece acompanhar a velocidade das minhas vontades esdrúxulas nem a minha urgência de felicidade. Quero mais e você precisa querer também. Porque EU quero assim: mais uma chance para nossa necessidade de ficarmos juntos. Deixo nosso "nós" ficar aqui se ele se render. Quem sabe assim, caberá a nós o eterno.

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Janta (M. Camelo)

Eu quis te conhecer mas tenho que aceitar
Caberá ao nosso amor o eterno ou o não dá
Pode ser cruel a eternidade
Eu ando em frente por sentir vontade

Eu quis te convencer mas chega de insistir
Caberá ao nosso amor o que há de vir
Pode ser a eternidade má
Caminho em frente pra sentir saudade

...

Eu quis te conhecer mas tenho que aceitar
(I can forget about myself trying to be everybody else)
Caberá ao nosso amor o eterno ou o não dá
(I feel all right that we can go away)
Pode ser a eternidade má
(And please my Day)
Eu ando sempre pra sentir vontade.
(I'll let you stay with me if you surrender)

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

todo mundo tem um pouco de VCB

Muitas pessoas desejam mais da vida e não sabem exatamente o que é. Sabem que tem que haver algo mais interessante, mais romântico, mais apaixonante, mais realizador. Outras, simplesmente, se contentam com a vidinha que têm, vivem felizes assim e ponto. Só que, no fundo no fundo, ninguém nunca está completamente feliz e quer um pouco das duas coisas: amor estável e paixão arrebatadora.
E daí que Woody Allen me fez parar pra pensar sobre isso enquanto assistia à Vicky Cristina Barcelona, pra mim o melhor filme do diretor em tempos. As observações espirituosas, o humor e as idiossincrasias marcam VCB, que também tem pontos fracos, claro, como a narração em off da história que, confesso, dá um pouco de sono (um cara atrás de mim até roncou na poltrona). Paradeira que dura até a entrada de María Elena, interpretada pelo furacão Penélope Cruz (que dá mais um banho de atuação) linda, louca, maravilhosa e que tira o fôlego. Seja pedindo Vodka, dando tiros para o alto, chorando, tentando se matar ou intercalando tão bem inglês e espanhol, Penélope mostra mais uma vez que não tem medo de nenhum papel que lhe oferecem. O resto do elenco dá conta do recado também e faz a gente se indentificar assustadoramente com algumas situações...
Vale a pena ver, não só pela bela música Barcelona (de Giulia & Los Tellarini) ou pelas e as imagens da cidade espanhola que funcionam como um colírio para os olhos. Mas pela forma como Allen descomplica o amor justamente por aceitar a maluquice e irracionalidade que fazem parte dele. Afinal, de Vicky (Rebecca Hall), Cristina (Scarlett Johansson), Juan Antonio (Javier Bardem) e María Elena todo mundo tem um pouco!
Calma lá que eu não vou ficar chovendo no molhado e falando sobre a história do filme blá blá blá (quem quiser, faz isso aqui aqui ou aqui). Só digo uma coisa: se você ainda não viu, o que está esperando?

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Em tempo: se você viu o filme e gostou, vale a pena dar uma lida no Diário de Filmagens de Woody Allen, publicado no New York Times. Pra variar, o texto é cheio de piadas e gozações. Entre outras "confidências" de bastidores, Allen conta que Scarlett e Penélope se apaixonaram por ele, que Javier é um ator burro e que já prepara seu discurso de aceitação do Oscar.
Olha isso!

Vicky Cristina Barcelona

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

o beijo da mônica e do cebolinha

É... as coisas mudam! E daí que até a Mônica se rendeu aos encantos da paixão e finalmente desonrolou seu caso com o Cebolinha!! Depois de décadas trocando coelhadas, os personagens finalmente partiram para um belo de um beijo romântico. Sim, o episódio está no quarto número da HQ Turma da Mônica Jovem, que retrata a turminha com 15 ou 16 anos.

Que as coisas mudam quando a gente cresce, eu já sabia!!! Só não imaginava que as figurinhas indefesas do meu gibi preferido (quando eu media menos de um metro) fossem pelo mesmo caminho! Além do beijo pouco provável, a nova fase da turma traz um Cascão crescido e que toma banho, mas não sempre; uma Mônica que fez regime e deve botar silicone em breve e um Cebolinha, agora chamado de Cebola, que recorreu a sessões de fonaudiologia e só troca a pronuncia dos “r”s pelos “l”s quando está nervoso.

Segundo o pai de tudo isso, Mauricio de Sousa, esse é o primeiro beijo da Mônica e do Cebola e as mudanças não param por aí. "Já houve bitoquinha de criança, no rosto, mas beijo de paquera e de começo de namoro é o primeiro".

Eu só espero, de fato, que esse romance pare nas bitoquinhas! Imagine só: "Turma da Mônica" - censurado para menores de 18?

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

um maníaco em minha vida

Moço: Desculpa... moça. Mas eu preciso muito tomar um café com você.

(Juro que pensei que o cara fosse tirar dois conjuntos de xícaras com café da bolsa e perguntar se eu queria com açúcar ou adoçante). Parei, com olhos esbugalhados, na esquina da Augusta com a Paulista! Olhei pros lados como que indagando se aquela conversa sem pé nem cabeça era comigo mesma... Afinal, em uma terça-feira pouco movimentada, quase 9 da matina, a caminho do trabalho, com figurino batido, cabelos desengrenhados e cara de sono, era pouco provável que isso fosse verdade!
Eu estava enganada. Era comigo que o sujeito falava... ó céus!

Eu mesma - Desculpa, mas é comigo que você tá falando mesmo? - falei já rindo horrores.

Puxando um fiozinho de lembrança, bem que eu tinha reparado que um doido meio mal vestido e com barba por fazer me olhava já no primeiro vagão do metrô, onde sempre fico. Mas, na hora não pensei que ele pudesse ser um maníaco-do-metrô-que-oferece-café-para-moças-indefesas-a-caminho-do-trabalho. Além do que, não temos muito pra onde olhar quando estamos no trem e, por isso, achei que fosse apenas impressão. Na saída do vagão pensei a mesma coisa quando subia pelas escadas rolantes e o talzinho subia pelas escadas normais e me olhava. Será que meu dente estava sujo? Meu cabelo, MUITO bagunçado? Achei melhor nem ligar...

Moço - Tô falando com você sim. É que, tipo assim (ô mania de paulistano!), eu reparei em você e PRECISO muito tomar um café com você, pra te conhecer melhor.

Eu mesma - (Hahahahahahahahahahaha), pensava eu sobre essa nova abordagem dos homens...

Eu não sabia se eu olhava pro lado e pedia ajuda, se ligava pra algum amigo vir me ajudar ou se dava um tapa na cara dele e saía correndo pela Paulista.

Moço - Olha só: você tá indo pro trabalho agora, eu tô indo pro trabalho agora... Por favor, qualquer dia desses, depois do expediente, tipo assim...

Eu mesma (de novo) - Hahahahahahahahahahaha

Moço (sério) - Me passa seu celular??

Eu mesma (nada séria) - Peraí, mas é um assalto então?, tirando onda com a cara do Sr. Como Paquerar Na Rua Todo Dia de Manhã.

Moço - Não. Por que?, disse. (oi, ele não entendeu a piada?)

Eu mesma (desenhando) - Porque você me disse pra "PASSAR" o celular... não o número do celular, entendeu?? hahahahahahahaha (M-U-I-T-A risada)

Cri cri.
É ele não entendeu. Chega! Se o cara quer dar uma de Don Juan em plena 8h54 de uma terça, tem que ser esperto e criativo, pô! Verena, acaba logo com isso... Fiz minha melhor cara de brava (rindo por dentro), olhei pro relógio e:

Eu mesma - Olha isso é loucura. Você não me conhece, tô indo trabalhar...

Moço - Não seja por isso. Meu nome é Tiago. E o seu é...?

Não, não acabou... E eis que o Tiago pegou na minha mão e me lascou um beijo no rosto. Oi? Que parte eu perdi? Daí que reparei que podia tirar um onda com tudo aquilo e ter alguma coisa engraçada pra contar... sei lá.

Eu mesma - Então, me chamo Iara com I... (rindo por dentro)

(Sempre quis me chamar assim... ok, mentira! Não curto esse nome de sereia)

Tiago - Legal, Iara... Posso anotar seu número? Porque, tipo assim, eu queria muito te conhecer. Vai, por favor??

Titubeei um pouco e pensei em como seria engraçado passar o fone de alguém que merece levar uns trotes! Além disso, Tiago tinha que pagar por não estar me poupando de tanta besteira logo cedo...

Eu mesma - Claro, anota aí....

Só assim o famigerado Tiago me deixou ir embora e caminhou saltitante pela Augusta, como quem certamente ia contar pros amigos que conquistou o que queria. Mal sabia ele que eu tinha passado o número do meu ex-namorado... ;)
Boa sorte, Tiagão Juan Antonio, beijoNÃOmeliga, ok?

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PS - Quando cheguei no trabalho, cruzei as informações sobre o tal Tiago com as do maníaco que quis "tomar um café" com uma amiga uma manhã dessas também. Constatamos que, sim, ele é um maníaco-do-metrô-que-oferece-café-para-moças-indefesas-a-caminho-do-trabalho.

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Moral da história 1: Não mexa com uma mulher logo de manhã.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

São Paulo, 25 de novembro de 2008.

Minha querida,

Hoje é seu dia mais uma vez e bem sei o quanto você gosta de comemorar suas novas primaveras... E, também por isso, mais uma vez uso o meu 25 de novembro para lembrar de quando nos conhecemos e de como temos nos tornado mais e mais próximas, mesmo há exatos 540 quilômetros de distância.
Quando te vi pela primeira vez, seu rosto contabilizava somente umas 13 sardas marrons que se destacavam na combinação com o cabelo muito loiro. Contei uma a uma, sim. Ninguém sabe disso, só você agora. Elas se espalhavam apenas abaixo dos olhos, no centro da bochecha, parecendo um blush em forma de bolinhas esparsas. Eu era pequena ainda, mas nunca esqueci como seus olhos, com a forma de duas jaboticabas e a cor de castanhas, não sabiam onde olhar primeiro. Da mãe pro pai, do pai pra irmã, da irmã pro travesseiro já batido pelos apertões que você dava nele, seu "Panãno.
Diferente de mim, você demorou pra começar a falar e sua forma mais prática de comunicação era chorar quando queria que o Panãno secasse rápido no varal. Mas você era muito esperta (e é). Nos restaurantes, costumava deixar a mãe desesperada quando sumia da mesa e voltava sorrindo nos braços de um garçom que, desavisado, havia lhe tirado da cozinha. De anjinho, só tinha os cabelos enroladinhos mesmo, que lhe renderam até um apelido carinhoso.
Lembro também, ainda com aflição, quando você (com apenas meia dúzia de anos) desapareceu de perto de nós naquela loja no meio do calçadão e cheia de gente fazendo compras de Natal. Evaporou! A mãe cumpriu o protocolo e se descabelou, a vendedora rezou e eu não sabia o que fazer, chorando, claro. Até que lhe encontrei numa gôndola de sapatos, provavelmente, observando as cores que você ia preferir quando crescese e se tornasse esse mulherão que tem mais personalidade do que juízo. Abracei você bem forte com um medo danado de perder o que você é, sua companhia silenciosa e suas sardinhas. Elas que aumentaram em profusão conforme chegaram seus aninhos!! Hoje você tem mais de 100 e elas ocupam sua testa, suas bochechas inteiras, nariz, olhos, queixo e sobram algumas até para seus lábios. Tomaram seu corpo na mesma proporção que a beleza, uma beleza bem genuína e sincera, que reflete o que você é.
Acontece que crescemos (você, até mais que eu), seguimos caminhos diferentes e, infelizmente, já não consigo mais contar as suas pintinhas. De longe, tento apenas administrar o medo que ainda tenho de perder sua companhia, seus olhos de jaboticabas ávidos por um conselho, seus cabelos longos e que mudam sempre de cor, e suas pontas dos dedos hereditariamente quadradas.
Minha sorte é que, apesar da distância, nossa relação ganha uma dimensão cada vez mais bonita. Seja no silêncio da madrugada quando você me busca na rodoviária ou no barulho do boteco em que a gente senta pra fofocar, aprendemos muito uma com a outra sem nem perceber. Assim, me orgulho muito de ser sua irmã, amiga, companheira.
E então só me resta desejar, mais uma vez, que sua vida seja a mais colorida possível e que você consiga enxergar ao menos um arco-íris por dia, apesar dos problemas que insistem em acontecer e que nos chateiam tanto. E, quando você não ver a luz no fim do seu túnel, conte comigo pra achar uma forma mais fácil de transformar os imbróglios em passos de uma música trance (que você tanto gosta e que até tentou fazer com que eu gostasse).
Te amo mais que o arroz-doce da mãe.
Se cuida sempre.
Um beijo,


Tábata, 21 anos e mais de 100 sardinhas no rosto.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

docinho de coco

E daí que chegou o dia tão esperado. Andei muito chão pra chegar lá e, depois de escolher um vestido que não me deixasse parecendo um colchão amarrado no meio, arrumar confusões no cabeleireiro, acalmar a noiva cheia de rolinhos no cabelo e tomar um lanchinho pra forrar o estômago, lá estava eu: vendo e testemunhando o que talvez seja um dos passos mais sérios da vida de uma amiga muito querida: o seu casamento.

A cada passo que a Ana dava rumo à sua nova vida, pensava como eu torcia pra essa união dar certo. Mesmo! O Gian, o noivo, estava com um sorriso realmente diferente, com o contorno dos lábios que ia de uma orelha à outra. A Ana, linda linda linda, deixava rolar uma lágrima de canto de olho conforme entrava na igreja de braço dado com o paizão (que parecia um bebê chorando). O beijo na testa, as flores, velas, música, um clima de festa, amigos amigos amigos. Coisa linda de ver. Benção pra lá, benção pra cá, eles viraram um do outro. E, vejam só, fizeram isso numa época em que poucas pessoas acreditam no tal casamento. Admirável, eu acho.

E então que, confesso, não pensei que ficaria tão comovida quando visse a Ana impecável entrando na igreja... com o pai dela. Mesmo já sabendo que aquilo tudo é apenas uma simbologia, chorei feito uma criança que cai durante a partida de bola queimada da escola. Como essa criança, sei que ainda vai doer um pouco até o machucado parar de sangrar. E eu percebi que vai demorar um tempo até eu ter um progenitor de volta pra chamar de meu e, quem sabe, entrar na igreja comigo no dia de um (pouco) provável casamento. Mas isso é outro post... tá tudo bem, respira fundo! 3, 2, 1.


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Fora isso, o final de semana foi regado com muita risada, algumas lágrimas de canto de olho, amigos tão antigos como os bares e as lanchonetes preferidos, visita à antiga UEL, família com abraço apertado, amigo secreto pro Natal, reza antes do almoço e coisas desse tipo. Coisas que fazem a gente lembrar como é bom voltar pra casa. Sempre!!


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Madrinhas loucas e a Ana vestida de docinho de coco!!

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Ontem, enquanto eu passava em frente ao metrô, vi um alguém muito parecido com você. Estranhamente muito semelhante a você, entende? As mãos eram grandes e as pontas dos dedos eram quadradas. O cabelo comprido faltava um pouco atrás, o sorriso era largo, o caminhar era lento, os traços, cansados. O jeito de pegar o cigarro, colocar a mão no bolso, guardar o maço novamente. Igualzinho em você. A camisa branca que você costumava usar também estava lá. Sem tirar nem pôr.
Esse alguém andava pela avenida balançando os braços e conversava com um outro alguém menos interessante. Só tive olhos pra você, ou melhor, pro alguém muito parecido contigo. O papo entre os sujeitos estava animado e isso me fez lembrar de quando conversávamos sem parar na volta do colégio. Você dirigia e eu perguntava qualquer besteira só pra ouvir sua voz e tentar copiar a maneira como você formulava as frases. Você desenvolvia o assunto, eu te olhava. Botava reparo em cada um de seus gestos, seus movimentos com as mãos e as mexidinhas cautelosas no cabelo que já caía (e acho que ainda cai). Quantas abobrinhas eu tive que ouvir só pra suprir essa minha vontade de aprender um pouco mais sobre o que se passava na sua cabeça!
Mas a saudade que tenho da nossa relação descoube no meu peito e me deu a grande idéia de mudar meu caminho habitual pra mirar mais um pouquinho o tal sujeito que copiava seu existir. E lá estava eu: novamente atrás de "você". O estranho sorria, caminhava, olhava para os lados, tragava o cigarro, existia... E, sem perceber, me fazia o grande favor de alimentar minhas lembranças com imagens "suas".
Acontece que eu estava mesmo atrás de coisas que me mostrassem que poderia, sim, ser você. Mas não era. Afinal, faz meses que não nos vemos... A chuva veio sorrateira, o tempo fez meu horário estourar e tive que voltar ao trabalho.
Peguei de volta meu caminho, mas, ao menos, agora eu tinha imagens "suas" fresquinhas na minha memória.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Faz alguns meses que minha vida gira em torno de rodoviárias. Não porque eu amo viajar amassada, encolhida em poltronas fedidas e ouvindo gente roncando do meu lado ou falando muito alto sobre o Corinthians enquanto tento ler o mesmo parágrafo do livro 6 vezes. Mas porque gosto de visitar minha família e, pelo menos enquanto não inventam uma ponte aérea sem interrupções até Londrina, viajar de ônibus é infinitamente mais barato. Por isso, tenho uma vasta experiência com terminais rodoviários. Pelo menos era o que eu supunha, até virar a última página do Livro Amarelo do Terminal, de Vanessa Bárbara.

O livro, que surgiu do trabalho de conclusão de curso em Jornalismo dessa paulistana, retrata detalhes bastante cotidianos do terminal rodoviário do Tietê. Despretenciosamente, Vanessa me conduziu a uma viagem ao interior da maior rodoviária da América do Sul, revelando coisas às quais eu não daria atenção por mim mesma. Onde ficam os ônibus antes de atracar no terminal, como funciona o sistema de som, qual é o faturamento do banheiro, qual é a quantidade de cafezinhos e toneladas de pães de queijo vendidos por ano, quantas pessoas passam pelas plataformas no Natal, como é o serviço do balcão de informações. E vai além, quando deixa de lado o macro revela seu interesse por histórias anônimas - quem são os funcionários e as pessoas que passam por lá, quem vem de muito longe ou vai pra mais longe ainda, quem são os motoristas. Em um dos capítulos, traz uma "história oral do Tietê", feita a partir de fragmentos de conversas colhidas ao acaso enquanto apurava o trabalho. E outros trechos reproduz os recados do locutor Marcos, a voz da velhinha que pára no balcão de informações e pergunta: "Moça, onde é que eu faço inscrição para ir pro Iraque" e registra trechos dos hits musicais do Tietê.

E, se Vanessa me ajudou a perceber que eu não conheço tanto sobre rodoviárias quanto eu pensava, ela também confirmou minha idéia de que rodoviárias são, sim, uma "versão condensada" do mundo. O movimento repetitivo das pessoas que vão-e-vêm, a inconstância, a idéia de massas, a sensação de não-pertencimento, a vontade de retornar ao lugar de partida, o anacronismo dos personagens, a permanência - aquilo que nunca muda. (Igualzinho a mim!).

A partir de agora, vou olhar pra todos os lados sempre que visitar uma rodoviária.

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Em tempo: o projeto gráfico do livro é muito interessante! Com páginas (amarelas) de gramatura mais fina, o livro permite uma transparência maior. Por isso, as letras se sobrepõem um pouquinho e dão o tom da bagunça estética do Tietê. Uma outra parte do livro é feita em páginas que lembram papel-carbono, utilizado em alguns tipos de passagens. Só de folhear já vale a pena!

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Terminal Rodoviário de Londrina - pra onde eu volto sempre que quero sentir o cheirinho da minha mãe, comer feijão e arroz doce, descarregar minhas energias e visitar amigos queridos.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Daí que quando eu e a Bárbara éramos pequenininhas, nosso passatempo preferido de primas era a brincadeira com bonecas nos corredores da casa da vó. Barbies, mais especificamente. Beatriz, Isadora, Isabela ou seja qual fosse o nome que arranjávamos para as loirinhas. Improvisávamos tudo pra montar a casinha da boneca: móveis feitos de potinhos de iogurte, bacias serviam de piscina ou banheira, qualquer trapo era roupa de festa, cantoneiras de sofá eram boates, caixas de sapato interpretavam carros e limousines. Passar a tarde na casa da vó era sinônimo de competição pra saber quem construía a melhor mansão.

Tudo girava em torno disso e, de quebra, essa brincadeira era nossa forma de se dar bem na época. É que, quando as Barbies estavam longe, a gente não se bicava muito. Não dá pra explicar. Acho que os anos a mais faziam uma diferença e tanto na nossa relação fora da brincadeira preferida. E além disso, com alguns aninhos a mais, a Bárbara era uma criança chatinha, quase uma filha-neta-prima-etc única. Sabe aquelas crianças que choram só de serem contrariadas? Se ela achava que a casinha da Barbie dela devia ficar aqui, era aqui que ia ficar, senão: "Ô vóóóóó...". Sobrava pra mim, claro.

Apesar de seu geniozinho, Bárbara tinha vestidos lindos, imensos, cheios de babados, rodados - o sonho de qualquer menina com menos de 1 metro de altura. Se ela fosse mais loirinha, podia até ser filha da Xuxa, ao contrário de mim. Eu babava mesmo, até porque no meu guarda-roupa as peças migravam da irmã mais velha ou eram feitas pelas mãos da minha mãe mesmo. Tricô e crochê eram as especialidades e eu tinha vestidinhos de todos os tipos artesanais: o corpete com linha de uma cor só e a saia de tecido estampado ou as blusinhas da capa da revista de modelitos de lã. É claro que era bemmm mais barato e servia, mas a menina dos meus olhos era o figurino da Bárbara.

Ainda bem que crescemos, ela diminuiu os babados de suas roupas (e sua chatice) e eu aboli o crochê da minha vida e cresci tanto que já não dava pra usar as roupas da irmã mais velha (conquistei o direito de ter as minhas roupas!). Mesmo com alguns interesses parecidos, seguimos caminhos bem diferentes. Em compensação diminuímos a distância entre nossas vidas pós-Barbies. Hoje, moramos juntas e nosso passatempo preferido é tomar uma cerveja bem gelada enquanto eu cozinho alguma coisa pra gente comer e ela escolhe a trilha sonora - geralmente composta das mesmas músicas preferidas de sempre (assim como os nomes das bonecas que eram sempre os mesmos).

Mas, mais curioso do que a gente se dar extremamente bem hoje (sem bonecas por perto), é que ela passou a dividir o meu guarda-roupa comigo. E quase sempre ela faz uma visita pros meus cabides... O meu azar é que nem tudo dela me serve! (Ela usa M e eu, G).




Bárbara veste Verena e vice-versa.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Tive dores de estômago por causa da agonia. Mais uma vez aquela agonia de viver fraca, o peito estravasado, o choro correndo, o coração na garganta. Pensei em ir até lá, ligar pra ele, mandar uma carta ou até mesmo um matador de aluguel, mas a dor só ia aumentar (faz anos que ela só aumenta - como uma avalanche mesmo). Queria ainda um digestivo potente pra dissolver esses sentimentos podres que brotam no meu estômago e causam essa dor crônica e cortante, toda vez que alguma coisa triste acontece. Como se fosse pouco, a cabeça também desatou a doer - pensei em bolinhas de gude que são feitas de pedra e ficam se batendo dentro do meu cérebro, uma a uma e em câmera lenta. E, pra completar, as olheiras vieram de brinde.

Sabe... no meu carnaval de todo dia, faço parte da ala das meninas que "quebram o coco mas não arrebentam a sapucaia". Mas confesso que, tem horas, que perco não só o fio, mas a meada inteira, e não sei como resolver certos quiproquós medonhos. Só quero paz... entende?

O jeito é respirar fundo, tirar o lencinho de choros da bolsa mais uma vez e olhar pra frente. Quem sabe, mirando um presente mais feliz.

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Pros amigos: beijovaleumaisumavez ;)

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Amarelo

Acontece que hoje está chovendo e você não está aqui pra eu te contar mais sobre aquele segredo só nosso. Segredo que está bem guardadinho, junto com as lembranças que tenho do dia que a gente se conheceu lá na ruazinha atrás daquele conjunto de prédios. Rua Aurora,123. Um nome perfeito para um "você e eu" perfeitos.

Acabava a aula e, com os pêlos do corpo arrepiados e a testa ardendo, corríamos pra Aurora pra ser feliz, amar, encostar e abraçar. Época boa. Primeiro amor, lágrimas desaparecidas, coração com um sorriso estralando, meus olhos sempre em busca dos seus olhos, as veias do corpo a todo vapor pra dar conta de tanta pulsação, desejo e, claro, segredo. Quanto mais eu me entregava, mais surgia o meu encanto. Foi lá que trocamos pingentes de coração (como se isso nos fizesse mais um do outro) e nossos próprios corações.

Hoje, pertinho de onde ficava seu carro, floresceu um pé de ipês amarelos. Flores amarelas que pingam sobre nossa cabeça quando passamos com o espírito limpo por baixo do pé. É lindo de ver, sentir e cheirar. Ainda ontem estive lá e uma das pequenas flores choveu no meu ombro. No ombro direito, mesmo lado em que eu chorava todo meu desejo pra você, por você. Embalada pelo cheiro do amarelo, lembrei de quando eu encostava nas tuas mãos e tentava disfarçar a minha urgência, de ter mais paixão. Uma paixão que fazia doer até os poros.

Só a Aurora sabia que o nosso grande segredo é que eu queria mesmo me colar em você.

Queria. Passado.

E então senti saudade da saudade que eu tinha de você.





terça-feira, 4 de novembro de 2008

São milhões de horas de sono. Fiz os cálculos! Pela média, já dormi mais de 69 mil horas na minha vida. São horas demais, porra! Só de pensar na quantidade de livros que deixei de ler ou nas viagens que deixei de fazer pra ficar na minha cama com os olhos fechados e fazendo nada... que desperdício! Ao menos, restam os sonhos que são muitos, e, no meu caso, existem em profusão. É impressionante a quantidade de coisas que enxergo quando estou em estado de sono profundo! De muitos deles nem chego a lembrar - e são os que deixam apenas a sensação de que algo mudou, um furacão passou, mas não sei explicar. Fora isso, vejo coisas bizarras, engraçadas, impossíveis, bonitas, tristes e desesperadoras. Nos registros dessas viagens direto pra dentro da minha pálpebra tem de tudo um pouco. Certa vez, apareci cheia de tatuagens e piercings na casa da vó durante a festa de natal e causei um frisson arrebatador (seria expulsa da família se não tivesse acordado antes). Em outra ocasião, namorei o eminente nadador Cesar Cielo (sim! ui!) e o apresentei pra todos os amigos que o acharam um pé-no-saco. Além disso, já corri nua pela rua envergonhada do que os outros viam, fui a melhor amiga de vários jogadores de futebol, vi alguns dos meus amores remotos darem as caras pra ver como seria se a gente tivesse continuado a escrever nossa história. Fui também a Mary Jane do Homem Aranha 1 e fiz com Fábio Assunção (lúcido) aquela cena com o beijo de ponta cabeça. Vi minhas irmãs e uma amiga-querida morrendo em uma enchente, presas dentro do carro (deste sonho levo apenas a lembrança de ter acordado gritando com o coração na mão e ligando pra saber como elas estavam - detalhe: eram 3 da madrugada). Teve ainda a noite que sonhei, misteriosamente, com o fogo gelando, a neve fervendo, o luar em pleno meio dia e o sol rachando mamona à meia noite. Já vi todo mundo aplaudindo o Hitler (?), bati um papo com deus que não parecia o Tiradentes e usava um par de All Star, plainei pelas ruas de Sampa por cima das cabeças das pessoas apressadas e dirigi no escuro sem saber o que estava a minha frente. Sonhei também que, grávida, via meu bebê nascer dentro da minha livraria preferida - a criança pulava de mim e já ia folhear um livro! =) Sem esquecer do sonho de dar um fora no Brad Pitt (oi?) dizendo que não o achava bonito (mentira!) e, claro, quando quebrei o pescoço e os dedos porque tenho o costume de estralá-los demais. Também já me olhei no espelho e não me vi, fui cantora internacional de sucesso e namorei um rockeiro famosão, além de já ter sido jogadora de vôlei. No último fechar de olhos, noite passada, sonhei que fiz as pazes com o pai e a gente conversava tranquilamente no quintal da casa velha (o tempo estava limpo, a rua vazia e a cerveja gelada). A lista de sonhos sem pé nem cabeça é interminável. Por serem intensas, essas imagens deixam uma pulguinha atrás da minha orelha. Será que elas têm um significado? (Ou será que só servem para rechear roteiros de filmes B?). Por isso, me permito um desvario para fazer a pergunta: e se eu corresse nua pela rua ou encontrasse os antigos amores pra recomeçar velhas histórias? O que aconteceria? Se levo adiante a conversa comigo mesma, posso até concluir que correr nua pode representar o eu como sou, despir-me de certos valores... E sonhar com pessoas queridas morrendo pode ser o medo de perdê-las e a necessidade de dar mais valor a elas. Vou além para concluir que fazer as pazes com o pai pode significar o quanto o estimo e agradeço por ter me dado a possibilidade de existir e sonhar, apesar dos pesares. Não dizem que os sonhos simbolizam diretamente o que estamos dizendo? Então... Talvez, dormir horas e horas durante a vida não seja assim um desperdício tão grande.

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Pra tia: adorei que você ligou. Isso diminui o meu medo de ser esquecida só porque não moro mais na terrinha!
Pra crise global: você pode dar um tempo? Beijomeliga
Põe um pouco de amor numa cadência e vai ver que ninguém no mundo vence a beleza que tem um samba não...

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

o que virá

Ontem, nadando no meu mar de dores intensas de coração, fechei meus olhos e só conseguia enxergar uma coisa na escuridão que fica dentro da pálpebra quando a gente chora sem parar: uma série de imagens. Um filminho mesmo: a risada com amigas na escolinha, o choro por causa do atraso da mãe no portão, o dia das crianças em que acordei sem meus pais por perto, as brigas com as irmãs para saber quem era a filha preferida, a vez que meu pai me pegou beijando um menino (que vergonha!) na festinha da igreja, o primeiro jogo do Tubarão no Estádio do Café, o apelido de "Potência" porque eu era uma gordinha que pesava 89 arrobas (pelo menos), o sorvete liberado na praia, a viagem pra casa da bisavó ouvindo mil vezes a mesma música, a ida ao trem-fantasma no Beto Carrero, as minhas boas notas em português e o recorde de livros lidos aos 6 anos. Coisas, coisinhas. Isso que chamo de "minha vida".
Tentava, ainda com os olhos fechados e o coração sangrando na garganta, achar o fiapo de esperança que perdi por aí, em algum lugar do caminho. Esperança de ver tudo dar certo e de descobrir que a vida nem é tão dura assim, na verdade. Que tudo vai ficar bem. E que eu vou chegar em casa e vai estar tudo lá, como era aos 6 anos de idade e eu ainda pegava no braço da mãe pra atravessar a rua. Tentava, talvez, encontrar uma razão não-idiota ou um errinho que pudesse me fazer entender a coisa toda. Não deu.
Duas neosaldinas e milhões de pensamentos depois, eu ainda tentava dar uma dimensão mais normal e menos bizarra pra toda essa história. Não consegui, é claro. Com a ajuda de amigos que, "complacentes", são meus docinhos de coco e apostaram em ótimas piadas pra assoprar minha dor.

Um dia, ainda vou conseguir parar de rolar na cama à noite, assaltar o telefone e ligar pra pessoa certa e falar as palavras certas. Mas calma. Por enquanto, chega de drama, de dor.


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"Uh... Se a gente já não sabe mais

rir um do outro meu bem então
o que resta é chorar e talvez,
se tem que durar,
vem renascido o amor
bento de lágrimas.
Um século, três,
se as vidas atrás
são parte de nós.
E como será?
O vento vai dizer
lento o que virá,
e se chover demais,
a gente vai saber,
claro de um trovão,
se alguém depois
sorrir em paz".

Amarante.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Vontade de tirar a barriga da miséria, de comer muitos limões sem fazer careta, atravessar a Paulista sem olhar pros lados, pegar o sol pela mão e sair passeando com ele à beira-mar. Vontade de conversar com deus e perguntar pra ele, de preferência tomando um chope geladíssimo, quem vai ser o campeão brasileiro este ano. Vontade maluca de engolir todos os filmes e ler todos os livros que tenho pendentes na minha lista. Vontade de contar a quantidade de sardas que a irmã mais nova tem no rosto, dançar sozinha enquanto espero o metrô, fazer aquelas tatuagens que planejei há séculos. Vontade de tirar as notas musicais do meu bolso para, enfim, aprender a tocar a sanfona do avô. Vontade de jogar luz nas lembranças mais lindas pra eternizá-las aqui na cabeça, transformar a segunda em sábado e a terça em domingo, e assim por diante. Trazer Londrina mais pra perto de São Paulo, a rua Dona Leopoldina mais perto da Capote Valente. Vontade. Meu coração e o delas. Vontade de pintar as unhas dos pés de vermelho sem ter vergonha de sair na rua com havaianas. Aprender aquela antiga receita, saber desenhar o que se passa dentro de mim pra não perder litros de saliva tentando me fazer entender. Vontade. Vontade de não mais escolher a fantasia errada, nem colocar máscaras que caem na metade da festa ou a meia fina que rasga só de relar. Vontade de ver as coisas chegando até mim menos doloridas, menos exageradas, com menos distorções familiares. Menos Nelson Rodrigues e novela mexicana. Vontade de não me cansar com a dimensão atual de meu raciocínio, de me desapegar das discussões com que sempre gastei palavras e tempo. Vontade de sambar em paz só eu, a melodia e os batuques de mãos dadas formando roda, de voltar do boteco sem o cheiro de cigarro na roupa e nos cabelos. Vontade de rancar as amigdalas com as mãos sem dor ou anestesia, e aproveitar pra tirar essa pedra que engoli quando ele foi embora no dia do meu aniversário sem olhar pra minha cara. Vontade de transformar o medo das coisas em uma paixão daquelas que escorre entre os dedos. Não ver as rugas da mãe aparecendo, as irmãs cometendo erros que já sei que vão doer, a afilhada crescendo e se desinteressando pelos livros infatis que levo pra ela toda vez.
Vontade, vontade, vontade. Sim, hoje é o meu dia mundial da vontade... de ser mais feliz.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

?

"Como faz pra dizer que não?
Como se disfarça a intenção?
O que fazer com a obrigação?
Como faz pra te conhecer?
Como faz para te esquecer?
Como faz para amar você?
Você."


Ana, a Cañas.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Dona Nena

As centenas de sardas em seu rosto tentavam esconder parte dos anos vividos à base de muito trabalho, suor e sofrimento. As mãos, grandes como os ossos dos braços, denotavam que tinha nascido pra ser mulher, mãe, avó e bisavó, mulher. Era muito vaidosa e não podia ficar de fora das fotos importantes da família: primeira comunhão, crisma, aniversário de todos os netos.

Todo dia de descanso, às 6h, eu acordava pra acompanhá-la na maior feira da cidade, lá perto do cemitério. Pelo sacrifício, eu ganhava um pastel de queijo e um todinho, mas só depois de passar nas barracas de bananas, legumes, verduras e café moído na hora. é claro. Sempre. Seu amor pelas feiras de domingo passou pra mim, inclusive.

Ela fazia o melhor macarrão do mundo. O molho encorpado, a massa fresquinha, os tomates suculentos. O frango assado não ficava atrás. A combinação era iguaria dos deuses e deixava no chinelo qualquer chef famoso. Sem esquecer que eu era chamada com urgência todas as vezes que ela fazia cural. "Você pode passar aqui que eu fiz pra você?". Lambuzava os dedos e ainda levava mais pra casa no potinho esmaltado com desenhos de flores.

Hoje, sonhei com ela. Como no ano passado, nessa mesma época. Comentei na mesa de café e a prima lembrou: hoje. Hoje faz dois anos. Dois anos sem ela, sem o macarrão com tomates gigantes, sem o sítio e sem o cural (que não encontro mais). Isso me lembra também que, sem ela, a vida familiar desandou. Alguns filhos brigam, os netos se afastaram (com algumas exceções), o filho preferido já não é mais o mesmo, assim como a festa de Natal em família. Na antiga casa com quintal imenso só se ouve o barulho do vento batendo na goiabeira de goiabas brancas lá no fundo.

Restam, claro, as feiras livres, que tento visitar aos domingos pra encher as fruteiras lá de casa.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Livro escrito com bile

Mais uma vez, decidi ler um livro não pelo que ouvi falar sobre ele, mas sim pela sua aparência. Tenho essa mania. (às vezes não funciona). Só que desta vez, me peguei babando pelo título da obra. Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios. Não soa bem?

Com todas as letras, caí de quatro pelo livro de Marçal Aquino; um livro que não li, devorei. (Primeiro porque eu buscava uma inspiração há tempos perdida. Uma paixão. Um algo em que se agarrar e pelo o que valesse a pena perder horas de sono. Segundo, porque o livro traz segredos importantes. Um deles, que aproveito pra contar, é que na loucura dos amores contrariados não há espaço nenhum para a razão, apenas para mais loucura).

Cauby (como o cantor), um fotógrafo quarentão, vive para clicar putas decadentes da cidadezinha garimpeira. Leva uma vida comum, tentando “transformar o banal em épico”. E o épico aparece com o nome de Lavínia, mulher casada, deliciosamente sensual e alterada. O amor que vem do sexo, sexualmente transmissível, e das sessões particulares de fotografia. Cauby encontra sua musa e fotografa cada um de seus poros. "Uma imagem preciosa. Daquelas que justificam guardar o negativo num cofre de banco". Mas aí vem a realidade, a razão, o tatu de estimação, a vida, o vizinho dele, o passado e o marido dela, o moralismo da cidadezinha...

A grande desgraça é que as lembranças não bastam para confortar os amantes. Ao contrário: servem só para cutucar as chagas daqueles que foram “condenados à lepra do amor não correspondido”. E, por isso, a natureza do amor, de não nos permitir escolher por quem nos apaixonamos, é uma rota que pode conduzir à ruína. E... a tragédia chega sem ser notada e nos conduz para um abismo de ambigüidades - quando já se está envolvido o suficiente para morrer de amores pelos personagens. Um livro escrito com bile. A bile de Marçal, a de Cauby, Lavínia, a minha. Diante da ameaça de chegar à ultima página, fiquei atordoada.

Vi minha aflição diminuir quando ouvi dizer que a história vai virar filme. Espero que seja tão convincente quanto o livro! Mesmo! Consigo até visualizar o ator Chico Dias no papel do fotógrafo decadente e, talvez, Alice Braga ou Dira Paes brigando para ver quem consegue arrancar a melhor Lavinia do seu sangue de atriz.

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"(...) O que acontece é que, quando estou com você, eu me perdôo por todas as lutas que a vida venceu por pontos, e me esqueço completamente de que gente como eu, no fim, acaba saindo mais cedo de bares, de brigas e de amores para não pagar a conta".

Cauby e sua declaração de amor.
"Abre os teus armários, eu estou a te esperar
Para ver deitar o sol sobre os teus braços, castos
Cobre a culpa vã, até amanhã eu vou ficar
E fazer do teu sorriso um abrigo

Canta que é no canto que eu vou chegar
Canta o teu encanto que é pra me encantar
Canta para mim, qualquer coisa assim sobre você
Que explique a minha paz
Tristeza nunca mais

Mais vale o meu pranto que esse canto em solidão
Nessa espera o mundo gira em linhas tortas
Abre essa janela, a primavera quer entrar
Pra fazer da nossa voz uma só nota"

Camelo.





...

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Queria elaborar outro jeito de dizer que não parecesse tão desesperado. Queria, como nunca, despir as palavras, deixá-las distantes do passado. Queria reencontrar o que se perdeu. Queria rasgar o peito pra liberar a saudade que machucava. Queria não mais encher a cara com lágrimas. Queria, de preferência, não soar retardada.

Mas insistia a frase pronta, reiterava-se o clichê. Suspirou. Não seria possível. Ele não acreditaria.

E desistiu.
Permanece o segredo.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Deixando pra lá

"Enquanto eu fujo você inventou
Qualquer desculpa pra gente ficar
E assim a gente não sai
Esse sofá ta bom demais
deixa o verão pra mais tarde"

Amarante.

Gambiarras

Descobri algumas coisas em Brasília:
1) os táxis não param na rua quando a gente chama lá
2) o sol parece o centro de um forno muito quente
3) a paixão do homem pelas siglas e abreviaturas pode tomar proporções desnecessárias
4) o ceú pode ser bem azul que nem algodão doce gigante
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Além disso, ao dar um pulo no Museu Nacional, para a II Bienal de Design, fiquei supresa com as coisas que os caras chamam de design. Tinha até um trator mostrando o que pode ser "moderno e inventivo".
Não entendo nada do assunto, claro, mas uma coisa me chamou atenção: a exposição "Gambiarras" (2007), de Cao Guimarães. Tem algumas fotos aí, mas quem quiser gastar uns minutinhos pra ver mais é só clicar aqui.
(Repare como as pessoas buscam formas de reinventar suas próprias invenções).







trechos

Dia de faxina na alma.
Sacudiu os pensamentos. Retirou a poeira encravada nos cantos da imaginação. Levantou os tapetes da emoção para limpar até o último ácaro sujo. Tirou o pó de perto de seus sonhos, para que estes não envelhecessem. Chacoalhou os quatro cantos de sua libido para reforçar o amor e a paixão pelo seu próprio corpo. Jogou com as duas mãos um punhado de alvejante em seu passado - queria separá-lo em um canto da memória para não tropeçar mais nele. Estendeu no velho varal todas as lembranças empoeiradas que gostava de ter – casinhas de bonecas, brincadeiras de criança, cheirinho do travesseiro e namoro no portão. Aproveitou para lustrar suas eternas verdades... fazia tempo que não as revia de tão perto. Com a limpeza, veio a essência. Mesmo branco, seu espírito tinha agora cores de borboletas em dias de primavera e foi além – cheirava a tulipas fora de estação. Renovou-se. Agora, leve, pretende seguir em frente.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

...

"É preciso especificar: a grande, a perfeita solidão exige uma companhia ideal".

Nelson, o Rodrigues.

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Pra você: remexer as mágoas hoje me fez bem.
Pra Carolinda: a madrinha viu um livro que é sua cara!

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Falta de visão

Assistir ao Ensaio sobre a cegueira me deu uma puta dor de estômago. No final do filme, era como se eu tivesse levado uma pancada e fiquei inerte por alguns instantes.
Claro, não é fácil ver até onde o ser humano pode ir pra conseguir sobreviver no caos. Mas, era necessário. A dor de estômago, as cenas de estupro, as facadas, o sangue, a sujeira nas ruas, pessoas atirando em pessoas, o caos. Era tudo necessário e indispensável mesmo.

O que NÃO era necessário? Isso:

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"O filme retrata cegos como monstros, e vejo isso como uma mentira", disse Maurer, presidente da Federação Nacional de Cegos, sediada em Baltimore, nos Estados Unidos. "A cegueira não transforma pessoas decentes em monstros."

(...)

De acordo com a entidade, o filme reforça estereótipos incorretos, incluindo o de que cegos não podem tomar conta de si próprios e ficam para sempre desorientados. "Nós enfrentamos uma taxa de 70% de desemprego e outros problemas sociais porque as pessoas não acham que a gente possa fazer nada. E esse filme não ajuda em nada", afirma Christopher Danielsen, porta-voz da organização.

(...)

"Acho que a falta de compreensão entre todos é um problema significativo", disse. "E acho que associar isso à cegueira é incorreto."


Matéria inteira? AQUI. (Risível...)

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Oi, eles nem viram o filme?

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

em queda livre...

Em dias de pouca produção, eis que acho uma maravilha na blogosfera. Adouro os tempos modernos!

"Escrevo para fazer cócegas na dor. (às vezes, Ela ri.)"

www.juemquedalivre.blogspot.com

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

A Flor

Diversas músicas contam pedacinhos da minha história ridícula. Ai ai...


A Flor

"Ouvi dizer
que o teu olhar ao ver a flor
Não sei por que
achou ser de um outro rapaz
Foi capaz de se entregar
Eu fiz de tudo pra ganhar você pra mim
Mas mesmo assim...
Minha flor serviu pra que você
achasse alguém
Um outro alguém que me tomou o seu amor
E eu fiz de tudo pra você perceber
Que era eu...
Tua flor me deu alguém pra amar
E quanto a mim?
Você assim e eu, por final sem meu lugar
E eu tive tudo sem saber quem era eu...
Eu que nunca amei a ninguém
Pude, então, enfim, amar...vai!"

Amarante / Camelo

Sobra sensibilidade

Pensamos milhares de vezes em ir de táxi, mas a não-vontade de gastar 800 mil reais e o gostinho pela aventura e por usar o carro novo nos impulsionaram. Era a primeira vez que nos aventurávamos a quatro rodas pela cidade tão longe assim.
Fomos: dois caipiras; um dirigindo na Nações Unidas na chuva e o outro procurando a entrada certa - ponte Transamérica. O ponto de chegada era instigante. Não podíamos correr o risco de errar e perder o melhor: o novo show de uma das melhores bandas brasileiras: O Rappa (7 Vezes). O som (novo) do possante já dava a letra de como seria aquela noite: mar de gente, a alma, eu quero ver gol, papo de surdo e mudo, farpa cortante, hóstia. Previsível, porém delicioso.
Chegamos! Chopp Itaipava (nem tudo é perfeito), pessoas estranhas, manos, algumas patricinhas, marofa e fumaça rolando soltas - nos outros 4 shows deles em que estive é sempre a mesma história - só muda a bebida (em Londrina o chopp NÃO é Itaipava! ainda bem).
O nosso lugar não era dos melhores e isso me deixou um pouco de bode. Além disso, fazia frio e não tem coisa pior do que ficar trancafiada em um lugar com milhares de gentes nessa situação. Mas, ao abrir a cortina, tudo mudou. Embalados pelo show de som e luzes que eles costumam projetar no cenário, a energia foi borbulhando dentro da gente e pulando pra fora dos poros. Mais uma vez, tudo se conectava: imagens, acordes, timbres (levemente prejudicados pela acústica do lugar), movimentos. Pulei, fechei os olhos, me libertei, joguei os dilemas, problemas, pepinos todos para segunda-feira e gargalhei! Sou suspeita, mas o espetáculo foi muito bom.
Em tempo - eu, o Falcão e as outras milhares de pessoas que estavam lá agradecemos imensamente porque nem todo mundo dá muita atenção ao que alguns colegas escrevem por aí sobre os caras. "Insosso", "falta tato, sensibilidade"?
Gente, que parte do CD e do show eu perdi? Não sei... mas a voz sei que perdi!

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Primeiro andar

"Eu escrevo e te conto o que eu vi
e me mostro de lá pra você
guarde um sonho bom pra mim"

Rodrigo Amarante

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Homem Glam existe?

Eu tava nesse shopping chato, cheio de gente moderninha e careta ao mesmo tempo. Em se tratando daquela cidade, era todo mundo bem caipira mesmo. E eu lá: insistentemente andando pelos corredores. Precisava achar uma feiticeira pra limpar a porra do carpete lá de casa! Já mencionei o quanto eu odeio carpetes?? Eu não tenho nada dessas perebas e alergias de poeira, mas ODEIO com todas as minhas entranhas limpar carpete. Cacete, coisa chata! O pior é que o trabalho sujo tem que ser feito por alguém. E eu não aguento mais ficar esfregando aquilo com vassoura vagabunda que quebra toda hora. Então, depois do entra-e-sai das lojas que em nada me ajudavam, eis que surgiu um potencial candidato a Homem Glam. Isso mesmo! Explico: desde que li o Máquina de Pinball, da Clarah Averbuck, fiquei imaginando como seria meu encontro com um Glam Man. "Homem tem que ser homem e conseguir ser mais mulher que eu. E é aí que entra o Homem Glam, que merece até uns itálicos e uns negritos", define estrategicamente a autora. Mas como eu sabia que era ele? Na verdade, eu não sabia. Por via das dúvidas, palpitei! Ele vestia o uniforme da loja que, certamente, ia me salvar naquele mar de mauricinhos cheios de gel no cabelo! Camiseta azul, calça cáqui suficientemente justa, cabelinho jogado tipo o Príncipe daquele filme de ogro, sorriso perfeito e branquinho, bochechinhas salientes olhos azuis, sabe? É claro também que não fiz nem metade do que a Clarah fez quando encontrou o Glam dela (até porque não sou ela nem de longe, né?). O fato é que o atendente aspirante a Glam ficou me bajulando de uma forma ridiculamente sedutora. Acredite, se quiser. Com paciência e determinação, me mostrou todas as opções. Montou e desmontou prateleiras. Sobe e desce escadas. Enquanto isso puxava papo e eu, como boa comunicadora, respondendo. Ele era tão bacana que achei melhor encarar o papo mesmo.

- Ah, eu? Moro em Sampa, sou jornalista, blá blá..., investi.
- "Sampa? Nossa! Que legal! Seu trabalho é legal? Blá blá blá... Queria muito ADEVOGAR lá...", disse o projeto de gente.
- Ah! Você vai ser ADEVOGADO??? - tóimnhóimnhóim.

Cacete! Ele falou ADEVOGADO mesmo? Não pode ser! Não sei ainda como é o Homem Glam (se é que há um), mas certamente ele não falaria ADEVOGADO! Encerrei a conversa, desisti da feiticeira, fui ao caixa e pedi um Durepoxi mesmo. Decidi consertar a quebrada lá do apê. Com certeza, vai limpar do mesmo jeito, vou gastar só 3 reais e não corro riscos de ter que ouvir coisas sobre a adevocacia brasileira.


--

Moral da história 1: (Laris, emprestei essa de você tá?)
Em time que tá ganhando não se mexe. Se você precisa de uma coisa nova, experimente consertar a coisa velha antes com Durepoxi. Assim você evita esse tipo de decepção.

Moral da história 2:
Homem Glam existe mesmo??


**

Pro mocinho-querido: Beijo, não me liga!?
Pra mãe: adorei a surpresa no bolso da minha jaqueta branca! ;)

A vida segue

"Essa foi uma semana marcada pelo acúmulo de ácaros, um sono irregular que não dura o tempo de um jab e uma vontade filha da puta de escapar. Algum jeito de escapar. Da tortura, do compromisso inadiável e do desespero que não grita, que sussurra no ouvido e você sabe que ele tá lá, mesmo quando olha pra trás e vê que a rua está completamente vazia. Mas a vida segue. Sem grandes entusiasmos, sem olas da torcida e com aquele lastro de cartões de “boa sorte” que eu espero estejam todos lá, entre o Aurélio e livro da Alice, assim como eu deixei. Sobram os fins de noite bebendo um conhaque com o meu amigo Márcio Américo (ele bebeu energético) no boteco da esquina e a gente falando sobre morte, estupidez, desencontros e todos aqueles assuntos que a gente já vem conversando desde os nossos 18 anos de idade, que foi quando a gente se conheceu".
Mario Bortolotto

terça-feira, 16 de setembro de 2008

laços, fiapos e cabos de conexão

E da série, textos que gostaria, eu mesma, de ter pensado.... vale a pena ler o que Cecilia Gianetti escreve.


laços, fiapos e cabos de conexão

"A AUSÊNCIA DEFINITIVA de quem está vivo, e bem, e apenas levando outra existência na qual não cabemos, esta é a agulhada fria, a certeza de ter a companhia de uma cidade inteira de novas possibilidades, amizades, amores menos ariscos. Uma cidade viva e pulsante, que deslumbra e ofende na mesma proporção com que cresce. É sentir-se traído pelo silêncio de um só.
(...)
Rostos e fachadas de prédios que costumamos admirar não envelhecem; somem, tornam-se condomínios. Dão-nos assim a liberdade para reconstruí-los na mente conforme quisermos. Ou, em nossa maneira resignada, de nos assumir agora do outro lado, o do fogo silencioso na guerra que transforma os laços - urbanos, afetivos - em puro pó. Laços são material de pano fraco, jamais deveriam designar relações duradouras".

- -

Pro pai: as decepções e os laços desfeitos só me fazem mais fortes.

Pra você aí: obrigada por dividir comigo as obsessões pelas coisas simples.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

sexta-feira muito boa

Hoje o dia passou que nem rastro de bombinha de festa junina. Mil coisas, pensamentos, conversas... Tem vezes que a ansiedade me deixa meio maluca. Voei baixo até o metrô. Vagão, vagão, vagão, vagão. Relógio. Pensamentos. Lembranças e anotações pra não esquecer o shampoo sem sal e o papel. Algumas escadas. Palpitações. Não esquecer do envelope, do hidratante, do casaco e tênis. Ah, nem do livro e do iPod. Camiseta do Palmeiras não pode ficar de fora. Rua, rua, rua, faixa de pedestres. Um cara que fica aí parado todos os dias. Prédio. Interfone. Cadê a chave - bolsa grande é foda, pq nunca encontro o que preciso rápido. Oi, porteiro. Elevador não vem. Chegou. Ufa. Espelho. Um fio de cabelo branco. Ave santa! Saio. O tapete está enrolado de novo! Cacete! Toda vez. Claro, é difícil manter o maldito certinho no corredor! Porta. Correria. Telefone tocando. Tá, mãe, ja peguei uma blusa reforçada, beijo, me liga. Banho. Mala. Odeio. Se pudesse estralaria os dedos e já estava pronta. Roupas, calcinhas, sapatos, meias, blusa de frio, passagens, dinheiro, agenda, coisinhas, presentes pra irmãs, celular, vontade de ser mais feliz e de respirar ar puro por alguns dias, saudade louca pra matar. Acho que peguei tudo. Comer rápido. Quase queimei a torta. Cadê o bilhete único? Ônibus lotado. Saco. Rua, rua, rua de novo. Barra Funda. Milhões de pessoas - todas com pressa de paulistano desvairado. Plataforma. Número 15. Eba, tô indo! Entro e ouço todas as músicas até a bateria acabar e o tânsito da cidade dar uma trégua. Parada pra lanche. Xixi. Aproveito pra ver o finzinho do jornal na TV. Madrugada. E dá-lhe chão. Não chega nunca. Pego no sono. Sonho que tô num jogo do Palmeiras e o Arce ainda é jogador. Nossa! Pode isso? Acordei e vi a rodoviária redonda com cara de Oscar Niemeyer. Ufa, cheguei. Celular. Irmã vem me buscar. Eba de novo. Em casa. Silêncio. Gato me olhando. Odeio. Abraço, abraço, abraço. Mãe, irmãs, avó. É bom demais!

...

"And you still want me
I know because the smile that’s on your lips it’s for me
They were meant for me to kiss and you were meant to love me, darling"
The Kinks



Tem versos que eu mesma queria ter parido.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Quando o próprio amor vacila

Tem dias que a gente revive o passado, rememora alguns ex-amores, pensa nos momentos da infância, vê um filminho passar mesmo na cabeça. Não é?Pois é. Hoje tô nessa. Por isso, vasculhei umas antigas pastas de músicas e fiquei muito feliz em encontrar essa precisosidade, interpretada pela Bethânia. Sozinha, lavando roupas no tanque, sorri.

*

Quando o próprio amor vacila

Eu sei que atrás deste universo de aparências, das diferenças todas, a esperança é preservada
Nas xícaras sujas de ontem o café de cada manhã é servido Mas existe uma palavra que não suporto ouvir, e dela não me conformo
Eu acredito em tudo, mas eu quero você agora
Eu te amo pelas tuas faltas, pelo teu corpo marcado, pelas tuas cicatrizes, pelas tuas loucuras todas, minha vida
Eu amo as tuas mãos, mesmo que por causa delas eu não saiba o que fazer das minhas
Amo teu jogo triste
As tuas roupas sujas é aqui em casa que eu lavo
Eu amo a tua alegria
Mesmo fora de si, eu te amo pela tua essência Até pelo que você poderia ter sido, se a maré das circunstâncias não tivesse te banhado nas águas do equívoco
Eu te amo nas horas infernais e na vida sem tempo, quando,sozinha, bordo mais uma toalha de fim de semana
Eu te amo pelas crianças e futuras rugas
Eu te amo pelas tuas ilusões perdidas e pelos teus sonhos inúteis
Amo teu sistema de vida e morte
Eu te amo pelo que se repete e que nunca é igual
Eu te amo pelas tuas entradas, saídas e bandeiras
Eu te amo desde os teus pés até o que te escapa
Eu te amo de alma para alma E mais que as palavras, ainda que seja através delas que eu me defenda, quando digo que te amo mais que o silêncio dos momentos difíceis,
quando o próprio amor vacila


terça-feira, 9 de setembro de 2008

A piada

Mais uma vez, Mirisola:

"A vida não vale nada, aliás. Esse negócio de “qualidade de vida” só serve para corretor sacana vender apartamento de dois dormitórios em Osasco. Se a ciência realmente estivesse evoluindo, trabalharia no sentido de diminuir o tempo do homem sob a face da terra, e não o contrário. Em sendo assim, diante dos paradoxos e da hipocrisia social, temos, a meu ver, duas opções; quais sejam: a piada e o vislumbre da morte".

Prefiro a piada. E você?

Dores

Tive dores de estômago por causa da agonia. Ainda tenho. Agonia de viver fraca, o peito extravasado, o mel correndo. Liguei dezenas de vezes e nada. Esperei retorno e nada. E-mails e nada. Pensei em ir lá, mas a dor aumentaria certamente. Tomei então um digestivo para dissolver os sentimentos podres que brotavam nele, o meu estômago. Não adiantou, a dor era crônica e sentimental. Não tinha nada com comida - até porque faz dias que não como nada substancial. Pra ajudar, a cabeça desatou a doer. Pensei em bolhas que, ao invés de sabão, eram feitas de pedra e estouravam dentro do meu cérebro. Precisava resolver o drama de seu passado para ter, ao menos, um presente feliz. Pre-s-sente.

As olheiras vieram de brinde.

domingo, 7 de setembro de 2008

Aí vou eu!


Acabei de chegar da Barra Funda. Fui levar a Anne e embarcá-la pra casa. Pra Pequena Londres.

No meio daquela multidão de cores, pessoas e formas, pensei em quantas partidas e chegadas já assisti naquelas plataformas. Épocas em que o namorado ficava longe... E agora, épocas em que a família fica longe...

Malas
Mochilas
Passagens
Choro
Lágrimas
Muito choro
Risos
Abraços
Beijos
Olhares
A estação guarda de tudo um pouco mesmo.

Mas, eis que, depois de três meses sem ver o céu de Londrina, mal posso esperar para experimentar tudo isso de novo.
Sexta-feira estarei lá. No mar de sentimentos - a Barra Funda!
Rumando a minha querida terrinha!


sábado, 6 de setembro de 2008

O novo já nasce lindo

Experimentação. Instrumentos simples. Timbres novos. Penso que esses são os tônicos que serviram ao O Rappa para produzir o novo CD, 7 Vezes.
Confesso que andava bem ansiosa para ouvi-los novamente. Afinal, cinco anos separam o O Silêncio Q Precede o Esporro (último de inéditas) do novo disco. É claro que nesse intervalo ouvi um dos melhores acústicos da MTV com eles. Nesse último álbum, já havia me rendido ao som dos cariocas. Instrumentos lindos, coisas que eu nem imaginava que existissem, sonoridades inebriantes. Ouvi, reouvi, de todos os jeitos e formas.
Mas o longo intervalo de produção parece ter sido produtivo. O novo disco não deixa nada a desejar. As letras continuam a impressionar. Versos sobre imagens do cotidiano e da guerra urbana reiteram a capacidade da banda de cutucar a ferida bem lá no fundo, de falar sobre coisas que nos tiram de nossa vidinha mesmo que por alguns minutos.
A curiosidade por novos sons, herança do lindo acústico, permanece viva no 7 Vezes e fez cada integrante do grupo ter seus dias de Hermeto Pascoal. Guitarras, bateria, percussão e baixo se misturam aos timbres de garrafas, enxadas, embalagens de comida e até instrumentos infantis. Em tempos músicas muito parecidas umas com as outras, usar esses sons inusitados faz a gente lembrar do improviso, da simplicidade, da dignidade sonora. É uma maneira da banda deixar claro que não se esqueceu de onde veio. O resultado? Ah... não sei pra você, mas ao ouvir o 7 sinto que tudo que tá lá foi realmente tocado. Olha isso!:

*
Monstro invisível

Monstro invisível que comanda a horda arrasando tudo o que é de praxe
Eu tô laje acima no cerol que trás a vida pra baixo
Brilhante idéia de uma cabeça nervosa grafitando o outro muro de raiva
Eles já sabiam, mas deixaram a sina guiar a sorte
Vejo a minha história com a sua comunga!

Vejo a história ela comunga…Vejo a minha história com a sua comunga!
Vejo a história ela comunga…Vejo a minha história com a sua comunga!
Vejo a história ela comunga…Vejo a minha história com a sua comunga!

Poço lado sujo cria do descaso alimentando folhas em branco e preto
outra epidemia desanima quem convive com medo
Botões, atalhos amplificam a distância
E a preguiça de estar lado a lado veste a armadura esse é o poder solitário

*

De perto, ninguém é normal

Manias. Hábitos. Costumes. Sonhei que ninguém entendia meus tiques e me baniam do mundo. Acordei assustada. Fui tomar água na cozinha. Pra ficar mais tranquila, resolvi listar as benditas manias e ver no que dava. Será que fiz alguma coisa tão errada a ponto de poder ser chutada humanidade afora? No meio da madrugada, com pijamas e um cobertor nas costas, lá fui eu:

Sinto saudades dos personages quando acabo de ler um livro.
Tiro todos os anéis para ensaboar as mãos e passar creme.
Sopro no espelho e fico vendo as figuras que se formam com o bafo quente que sai do meu corpo.
Divido mentalmente as palavras que me vêem à cabeça sílaba por sílaba para me distrair. Como elas são perfeitas e simétricas!
Adoro ficar passando o rodinho na pia cheia de água.
Odeio lugares fechados, sem ar.
Quando acordo no meio de um sonho bom, fecho os olhos de novo e tento ver o final da história.
Faço quadrados quando estou falando no telefone. Muitos!!
Adoro sentir o vento do metrô chegando na estação batendo no meu rosto e bagunçando meus cabelos.
Piso somente nas faixas brancas ao atravessar a rua. (quando era criança, era um jogo: pisar na faixa preta era morte na certa!)
Fico rodando o anel do dedo anelar com o dedão.
Assisto à TV enrolando cachos de cabelo.
Lavo a louça dançando quando estou sozinha.
Bato sempre no vidro do aquário do peixe pra ver se ele está vivo mesmo.
Durmo esfregando as pontas dos dedos em chumaços da fronha do travesseiro.
Sorrio quando vejo um bebê.
Quando acordo no meio da noite, não acendo a luz. Enxergo tudo muito melhor no escuro.
Choro sempre olhando pro espelho.
Ouço mil vezes a mesma música.
Tenho um álbum com minhas fotos preferidas.
Folheio sempre minha maior herança: um caderno de poesia velho de alguém especial.
Começo a escrever um texto e paro no meio antes de terminar. Sempre.
Odeio gente que troca as bolas e opina sobre assuntos dos quais não entende - tipo, durante um jogo do Palmeiras.
Escrevo coisas num caderno e ninguém sabe onde o guardo.
.
.
.

Parei por aqui e voltei a dormir.
"De perto, ninguém é normal"... Mesmo!!

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

abandono

O texto do Mirisola fala de:

abANDOno.
abandoNO.
aBANDOno.
abanDOno.
AbanDONO.

Vale a pena.

"A lista de abandonos é imensa, quase sempre fruto da escolha sabida e antecipada de antemão, não só da minha parte, mas também da escolha dos outros que me deixaram no meio do caminho. Vários abandonos, aliás, frutificaram desses enganos – aqueles de encontros que jamais deviam acontecer – e que mereciam mesmo ser deixados na poeira dos dias e esquecidos para sempre, como foram. Embora tivessem frutificado. Tive encontros que eram continuidade desses abandonos, e partidas que eram prenúncio de novos abandonos. Mas isso tudo tinha uma razão de ser..."

Mirisola.

sábado, 30 de agosto de 2008

Paixão pelas palavras


Faz uns dias, terminei de ler A Menina que Roubava Livros, de Marcus Zusak. Ok, é um "best seller", hiper-mega-vendido em todo o mundo blá blá blá. (Tem até gente que fala que é perda de tempo ler esses livros). Mas quem me conhece sabe que leio tudo que não é auto-ajuda (afinal, ema ema ema - cada um com seus problema!) .

Meu interesse pelo A menina... surgiu com o desenho da capa. Confesso! Sou facilmente fisgada por rótulos até de shampoos, que dirá de livros! Achei a capa bonita mesmo. Abri o livro e a primeira dupla de páginas também me seduziu - a bela imagem de uma estrada cheinha de neve com pinheiros acendeu algumas memórias antigas... Aparências de lado, a história não é lááááá essas coisas... Mas, como diria o saudoso poeta Fregnan, "passa de ano".

Liesel Meminger, a menina, é tão ou mais intrigante que a cara do livro. Ela sofre um sofrimento digno de Segunda Guerra Mundial! Perde o irmão, a mãe a deixa para ser criada por outra família, a mãe postiça é meio cuzona, o pai-postiço vai para a frente de batalha, o melhor amigo de infância morre, o amigo judeu escondido no porão tem que deixar a cidade, e assim vai. É só porrada mesmo! No meio de tudo isso, a Morte, que conta a história em primeira pessoa, se admira com a força da menininha.

De bom mesmo, a história conta a paixão de Liesel pelos livros, pelas palavras. Além de fazê-la roubar livros, esse amor faz a pequena contar sua própria história escrevendo. Conforme seu sofrimento acontece, ela escreve. (Ring any bells?). A cena mais bonitinha é quando Liesel entra pela primeira vez em uma grande biblioteca (cena esta muito semelhante com minha primeira passagem pela Bienal do Livro).
Vale a pena ler, olha só


*

"- Jesus, Maria...
Ela o disse em voz alta, com as palavras distribuídas por uma sala repleta de ar frio e livros. Livros por toda parte! Cada parede era provida de estantes apinhadas, mas imaculadas. Mal se conseguia ver a tinta. Havia toda sorte de estilos e letras diferentes nas lombadas dos livros pretos, vermelhos, cinzentos, de toda cor. Era uma das coisas mais lindas que Liesel Meminger já tinha visto.
Deslumbrada, ela sorriu.
A existência de uma sala daquelas!
Mesmo quando tentou apagar o sorriso com o braço, percebeu no mesmo instante que era um exercício inútil. A menina sentiu os olhos da mulher percorrendo seu corpo e, quando olhou para ela, haviam pousado em seu rosto.
O silêncio foi maior do que Liesel jamais imaginara possível. Esticou-se como um elástico, prestes a se romper. A menina o quebrou.
- Posso?
A palavra ecoou entre acres e acres de terra deserta, com um piso de madeira. Os livros estavam a quilômetros de distância.
A mulher fez que sim com a cabeça.
Sim, pode.
A sala foi encolhendo sem parar, até que a menina que roubava livros pôde tocar nas estantes, a poucos passinhos de distância. Correu o dorso da mão pela primeira prateleira, ouvindo o arrastar de suas unhas deslizar pela espinha dorsal de cada livro. Soava como um instrumento, ou como as notas de pés em correria. Ela usou as duas mãos. Passou-as correndo. Uma estante encostada em outra. E riu. Sua voz se espalhava, aguçada na garganta, e quando ela enfim parou e ficou postada no meio do cômodo, passou vários minutos olhando das estantes para os dedos, e de novo para as prateleiras.
Em quantos livros tinha tocado?
Quantos havia sentido?
Andou até o começo e fez tudo de novo, dessa vez muito mais devagar, com a mão virada para frente, deixando a palma sentir o pequeno obstáculo de cada livro. Parecia magia, parecia beleza, enquanto as linhas vivas de luz bilhavam de um lustre. Em vários momentos, Liesel quase puxou um título do lugar, mas não se atreveu a perturbá-los. Eram perfeitos demais."
(A Menina que Roubava Livros - Páginas 122-123)
*
Compartilho com a protagonista da história a mesma paixão pelas palavras e a mesma dedicação em aumentar minha coleção de livros. Não os roubo, é claro, mas minha conta bancária costuma ficar no vermelho cada vez que entro em um sebo ou uma livraria.