segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Livro escrito com bile

Mais uma vez, decidi ler um livro não pelo que ouvi falar sobre ele, mas sim pela sua aparência. Tenho essa mania. (às vezes não funciona). Só que desta vez, me peguei babando pelo título da obra. Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios. Não soa bem?

Com todas as letras, caí de quatro pelo livro de Marçal Aquino; um livro que não li, devorei. (Primeiro porque eu buscava uma inspiração há tempos perdida. Uma paixão. Um algo em que se agarrar e pelo o que valesse a pena perder horas de sono. Segundo, porque o livro traz segredos importantes. Um deles, que aproveito pra contar, é que na loucura dos amores contrariados não há espaço nenhum para a razão, apenas para mais loucura).

Cauby (como o cantor), um fotógrafo quarentão, vive para clicar putas decadentes da cidadezinha garimpeira. Leva uma vida comum, tentando “transformar o banal em épico”. E o épico aparece com o nome de Lavínia, mulher casada, deliciosamente sensual e alterada. O amor que vem do sexo, sexualmente transmissível, e das sessões particulares de fotografia. Cauby encontra sua musa e fotografa cada um de seus poros. "Uma imagem preciosa. Daquelas que justificam guardar o negativo num cofre de banco". Mas aí vem a realidade, a razão, o tatu de estimação, a vida, o vizinho dele, o passado e o marido dela, o moralismo da cidadezinha...

A grande desgraça é que as lembranças não bastam para confortar os amantes. Ao contrário: servem só para cutucar as chagas daqueles que foram “condenados à lepra do amor não correspondido”. E, por isso, a natureza do amor, de não nos permitir escolher por quem nos apaixonamos, é uma rota que pode conduzir à ruína. E... a tragédia chega sem ser notada e nos conduz para um abismo de ambigüidades - quando já se está envolvido o suficiente para morrer de amores pelos personagens. Um livro escrito com bile. A bile de Marçal, a de Cauby, Lavínia, a minha. Diante da ameaça de chegar à ultima página, fiquei atordoada.

Vi minha aflição diminuir quando ouvi dizer que a história vai virar filme. Espero que seja tão convincente quanto o livro! Mesmo! Consigo até visualizar o ator Chico Dias no papel do fotógrafo decadente e, talvez, Alice Braga ou Dira Paes brigando para ver quem consegue arrancar a melhor Lavinia do seu sangue de atriz.

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"(...) O que acontece é que, quando estou com você, eu me perdôo por todas as lutas que a vida venceu por pontos, e me esqueço completamente de que gente como eu, no fim, acaba saindo mais cedo de bares, de brigas e de amores para não pagar a conta".

Cauby e sua declaração de amor.

4 comentários:

Anônimo disse...

Marçal Aquino é sempre bom! Gosto dele desde os livros da Série Vaga-lume. "A Turma da Rua Quinze" e "O Jogo do Camaleão" são clássicos da minha infância/adolescência, tanto quanto os de Marcos Rey. Aliás, aproveito aqui para registrar meu agradecimento a todos os responsáveis pela Série Vagalume, que efetivamente inspiraram o meu gosto pela leitura desde muito moleque.

E os livros de Marçal Aquino, via de regra, viram bons files. Até porque ele é bom roteirista também. Portanto, se você gostou tanto assim deste livro (belíssimo título, diga-se de passagem), é bem provável que o filme seja bom.

Beijos

Larissa Saram disse...

E finalmente vc vomitou esse texto!
Ufa, até eu estou aliviada!
Ficou ótimo Ve! Dá uma vontade louca de ler também!
bjssousuafã

Verena Ferreira disse...

Vomitar as coisas tem sido minha especialidade, srta. Saram.

...

Silvio Tambara disse...

Que nojo!!