sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

espero

Hoje ainda tinha espaço para o seu 'Feliz Natal' no meu coração. (Desejo de boas festas nunca são demais). Mas você não apareceu, tampouco sei onde está.
Espero que sua ceia tenha sido plena de coisas boas e que sua passagem para a meia noite tenha sido cheia de abraços e beijos de gente queridas.
Espero também que a vida não tarde em nos reunir novamente em um Natal qualquer, pra podermos brindar nossa história, nossos erros e acertos.
Te amo, pai. Feliz Natal. Nos vemos em breve, não?!

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Quando o pai esquece o filho do primeiro casamento

"Um homem que se finge de burro é mais burro do que um burro honesto.

O que me dói é ver um pai casar de novo e esquecer o filho do primeiro casamento. Esquecer. Nenhum cartão de Natal ou presente debaixo da lareira.

É que ganhou um herdeiro do segundo casamento, está envolvido na escolha do enxoval, no anúncio do jornal, em fumar charuto com o sogro e com aquela vaidade suprema de ostentar para sua esposa que é experiente e sabe segurar a criança.

Ele apaga a casa anterior — com o que havia dentro dela — e se apega à casa recente. Entende que sua criança ou adolescente cresceu o suficiente para não depender mais dele. Nenhum filho cresce o suficiente para ser órfão de repente, não importa a idade.

Aquele filho a quem amava e criava com zelo, a quem aconselhava e trocava as fraldas passa a existir somente como uma pensão, uma linha do seu contracheque. Não pergunta. Não telefona. Não se encontra fora de hora. Está muito ocupado criando um bebê. O que dá para entender é que ele não ama o filho, mas a mulher com quem se encontra no momento. Faz qualquer coisa para agradá-la, inclusive negar a paternidade do primeiro casamento.

É do tipo ou tudo ou nada, ligado à figura masculina patriarcal, que oferece e tira conforme suas vantagens. Não é bem um pai, mas um latifundiário emocional, desconfiado, sob permanente ameaça de invasão de suas terras.

Mãe é diferente, sempre se elogia quando menciona seu filho. Mareja os olhos ao mexer na gaveta das camisas, coleciona bilhetes e desenhos, inventa uma porção de neologismos no abraço. Não se guarda para depois, para um melhor momento, está disposta a conversar pressentimentos e costurar recordações.

Pai costuma se omitir no momento do desabafo. É comedido demais para estar vivo. Troca de personalidade, de residência, de amor, o que precisar, no sentido de prevenir a sobrecarga de problemas. Para namorar, ele some por meses (exatamente o contrário da mãe, que administra o final de semana com o apoio da babá e da avó). Homem ainda não conseguiu conciliar sua vida profissional com a afetiva. Não é capaz de unir nem a vida afetiva pregressa com a vida afetiva atual. Cuida de um afeto por vez. Pai não forma sindicato, não cria associação. Continua defendendo que ninguém tem o direito de se meter na vida dele e converte em inimigos os amigos que insinuam sua indisposição filial.

Ele se separou de uma mulher, não do seu filho, mas culpa o filho porque não consegue completar uma frase com a ex. Parte do princípio de que ajudando o filho está ajudando a ex. Gostaria de matá-la, mas então se mata para o filho.

Ou entende que seu filho deve procurá-lo, cria paranoias e neuroses para aliviar sua culpa. Age como um ressentido, fala mal do filho do primeiro casamento para a mulher do segundo casamento, alegando ingratidão. E a mulher do segundo casamento concorda com o absurdo porque está preocupada com o nenê e deseja a exclusividade do marido. E não entende que um irmão depende do outro irmão, que uma família não cresce por empréstimos.

Homem tem que aprender a sofrer em público, sofrer por um filho o que sofre por uma dor de cotovelo, apanhar das cólicas e da coriza, desabar numa mesa de bar, beber interurbanos, fechar a rua e o sobrenome para encurtar distâncias, chorar nas apresentações escolares, fingir abandono a cada despedida, para só assim mostrar que pai, pai mesmo, nunca será dispensável".

Do Carpinejar aqui ó

--

Ps 1 - precisa falar mais alguma coisa?
Ps 2 - estou repensando esse blog, principalmente porque não quero mais ser essa pessoa de 2009.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

dois passos

1. Ligar o sorriso e a simpatia no piloto automático;
2. Viver apressadamente os próximos 3 dias.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

segredo de justiça

A semana foi pesada com dois ou três pianos para carregar nas costas e uns pares de incêndios para apagar. Resolveu um a um os quiproquós, fazendo os malabarismos necessários para cumprir todos os itens de sua lista de pendências. Tudo com menos pesar e sem descuidar do brilho nas bochechas.
E agora i-sso. Não deu tempo de ver de onde i-sso veio. ((Confessa, no entanto, que seu sorriso enlargueceu alguns centímetros)).
Desde então, não conseguia mais mirar um ponto único e dar a ele a atenção devida. Os olhos deitados no horizonte, preguiçosos, lentos, borboleteando pelo escritório. A memória caçava o fio que ficou perdido. Faltava uma peça. Não achou...
Ensaiou prestar atenção. Tinha que tentar, é corporativo. Respirou um ar profundo e buscou ordenar e concatenar a massa cinzenta. Mas tudo que via eram letrinhas embaralhadas de notícias policiais, em que os termos "segredo de justiça" e "foro privilegiado" estavam na moda. E na-da, nada no mar de incerteza. Não conseguiu se achar. E a busca tem que continuar?
Focou na palavra "segredo de justiça" da notícia. Esse era o s-eu segredo de justiça. E achou bonito.

domingo, 13 de dezembro de 2009

pingos nos is

Laura não é do tipo que muda radicalmente o corte de cabelo ou a cor do esmalte, nem é do tipo que varia ruas, amigos, namorado e intenções. É, sim, do tipo que fala facilmente com estranhos, buscando simpatia e oferecendo apreço de graça. É do tipo que se apaixona por pessoas que falam frases perfeitas, riem exageradamente e gostem de ouvir e falar na mesma medida.

Não é do tipo que dispensa guarda-chuva, mas entende quem os deixa de lado. É do tipo que fecha os olhos na montanha-russa, mas não esquece o arrepio que isso causa. É também do tipo que coloca almas em pedestais para se arriscar a desvendá-las e é do tipo que quer alcançar o céu para descobrir a textura das nuvens. Laura é do tipo que sofre com o desprezo e indiferença, mesmo quando eles vem de pessoas que mal sabem de onde ela veio, quem ela é.

Laura não é do tipo que se explique facilmente. É do tipo amorosamente complicada e longamente confusa e, com isso, é do tipo que perde tempo pensando e repensando decisões simples. Não é do tipo que chora para chamar a atenção, mas que chora por dar atenção demais às coisas doídas da vida. É do tipo que ama um bom domingo com aquela farofada em família. Mas não é do tipo que sai ilesa de um domingo nublado e sem as presenças ilustres de mãe, irmãs, avós e aquela trupe de onde ela saiu, gente da sua gente.

E hoje é domingo, está nublado lá fora e Laura está longe de casa... precisa dizer mais alguma coisa?

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

A cabeça dói, a crise está instalada no freguês, as pessoas estão presas no trânsito, a lista de livros só cresce e o tempo para lê-los só diminui, a grana tá curta e a saudade, grande.
Quando muita coisa ruim acontece junta, é sinal de que alguma coisa boa vai acontecer?

Diz que sim, diz que sim, diz que sim?!

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

hoje o disco só tem um lado

Às vezes, sinto saudades sinceras e gordas de quando a gente usava os discos de música com lados A e B. Assim como os discos de vinil que o pai punha pra gente aos sábados à tarde, enquanto lavava o carro e o cão e engraxava seus sapatos. Eram tardes sabáticas em que era permitido fazer quase tudo: brincar, dançar, sapatear, girar a irmã mais nova pelo braço, pular sem chinelo na grama, subir o pé de não sei o quê do quintal... A mãe lá dentro cuidando da casa, a gente lá fora e uma nuvemzinha de felicidade genuína pairando em cima das nossas cabeças.

E aí acabava o lado A do disco e o pai me deixava trocar a bolacha de lado. Corria apressada até o som, parava e respirava diante do vinil ainda tentando entender como um treco redondo daqueles podia trazer tanta alegria para aquela casa. É que a mágica vespertina dos sábados só começava quando o 'on' do som era ligado pela mão de dedos quadrados do pai. Ouvíamos vários lados de vários discos e éramos felizes. Felizes de deixar os dentes brancos e as bochechas coradas.

Época boa, sensação boa. Um salve para essa capacidade doida de guardar histórias como essa! É o que me salva nesse momento.

--

ps 1 - Tô contando os segundos para que essa semana acabe e eu possa esquecer que ela existiu

ps 2 - Quero minha mãe!

ps 3 - Quero meu pai!

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

"Faz alguns dias que a tenho notado apagada, quase triste. Isto, sim, a tristeza lhe cai bem. Afina seus traços, torna seus olhos melancólicos e a deixa mais jovem ainda"

Martín Santomé, de A Trégua, Mario Benedetti.

--

E eu estou me apaixonando por esse livro.
prontofalei.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

pertinente

"Estarei ressequido? Sentimentalmente, digo"


Martín Santomé
personagem de Mario Benedetti em A Trégua

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

do dia

Daí que Laura sublinhou no seu diário ontem à noite: ter SEMPRE mais medo de palavra do que de gente. Porque gente pode até matar com arma, bala, violência etc, mas são mortes rápidas e com um final pontual, premeditado. Já a palavra aguda e doída, ao chegar no ouvido de alguém, fica tilintando na cabeça e causa dor de estômago, de coração, de fígado e afins. Não adianta tentar esquecer, explicar, mastigar e depois tentar engolir; tampouco adianta apagar o email atravessado ou o comentário que se ouve... Palavra assim cola no tímpano. Não tem médico que cura a dor que causa uma palavra dessas, bem afiada, daquelas que saem da língua de alguém como uma faca bem pontiaguda.
E então Laura decidiu começar seu dezembro mais esperta, crendo menos em palavras e mais em gente de verdade.