quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

saudade tem cheiro...

O cheirinho de amaciante entrando pelo janelão lhe causava uma saudade compacta. A casa da vó tinha cheiros características e este era um deles.
Lembrou de como tinha apreço pelos dias em que acordava, ainda pequena, surpresa por ter sido transferida de cama, porque os pais tinham que ir trabalhar e deveria terminar o sono na sala da vó. E o cheiro de café... Ah, o cheiro de café lhe dava asas para um lugar infinito de sabores e cheiros e uma sensação de que nada poderia dar errado.
Quando brincava na descida da garagem, atrás do Corcel vermelho do vô, sentia cócegas na língua com o aroma do bolinho de chuva vindo do fogão. E lá estava ele! Os bolinhos eram sovados com destreza pelas mãos duras da vó, fritos no óleo pelando e jogados em um banho de açúcar e canela na sequencia. Derretiam na boca. Receitinha infalível essa.
Outro cheio impreterivelmente característico era o da máquina de costura dela. Em dias de chuva, quando não podia estender roupa no varal ou lavar o quintal, a vó tocava costurar e remedar toalhas, meias, roupas em geral. Mãos ágeis, óculos enormes na ponta do nariz, os grampos no cabelo. E o cheiro que os fiapos de linhas soltavam entravam pelas narinas e davam uma segurança da vida, o medo ia embora, o dia ficava mais tranquilo.
Hoje, em sua própria casa, cuida para que os cheiros lhe lembrem sempre de onde veio e de como ama a vó, o vô e a família toda.


domingo, 21 de novembro de 2010

medo



Poema

Eu hoje tive um pesadelo e levantei a-tento, a-tempo
Eu acordei com medo e procurei no escuro
Alguém com seu carinho e lembrei de um tempo
Porque o passado me traz uma lembrança
Do tempo que eu era criança
E o medo era motivo de choro
Desculpa pra um abraço ou um consolo
Hoje eu acordei com medo mas não chorei
Nem reclamei abrigo
Do escuro eu via um infinito sem presente
Passado ou futuro
Senti um abraço forte, já não era medo
Era uma coisa sua que ficou em mim, que não tem fim
De repente a gente vê que perdeu
Ou está perdendo alguma coisa
Morna e ingênua
Que vai ficando no caminho
Que é escuro e frio mas também bonito
Porque é iluminado
Pela beleza do que aconteceu
Há minutos atrás

Ney Matogrosso.

--


Porque eu tenho medo de sentir esse medo pra sempre.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Bons conselhos.

Talvez seja a hora de esquecer aqueles rompantes de busca pela felicidade ininterrupta. Aquela busca ofegante por uma felicidade que lhe complete tanto a ponto de você sorrir para o resto da vida. Acabar de vez com a sensação de falta de ar, o medo da solidão, a vontade seguida de frustração de abraçar o mundo e não conseguir. Chegou o momento de dizer a verdade: nada é bom. É impossível sorrir 24 horas por dia e (prepare-se para ouvir:), na maioria das vezes, você é a única pessoa que se importará só com você pelo resto da sua vida – sem intervalos e exceções. Sim.

Talvez seja verdade que a culpada pela infelicidade é essa suprema exigência por uma felicidade que ninguém nunca segurou na mão por mais de alguns minutos. Por isso, recomenda-se fortemente que você pare de caçar essa felicidade dessa forma doentia. É importante que o desejo de encontrar amores perfeitos, trabalhos perfeitos, palavras perfeitas, horários perfeitos, luas perfeitas, corpo perfeito seja deixado para trás. Pare de pedir insistentemente por um final feliz, para as histórias de amor, para o sucesso profissional incondicional e irrestrito. Acostume-se com o que você tem e, com sorte, terá alguns desses momentos sublimes e perfeitos em suas próprias mãos. Não há nenhum mistério.

Os momentos alegres duram no máximo 10 minutos e se vão.

E você? O que vai fazer nos seus próximos 10 minutos de suprema felicidade?

--

“Ninguém é feliz. Com sorte, a gente é alegre”

do Filme "A Suprema Felicidade", de Arnaldo Jabor.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

A cabeça pesava alguns quilos a mais e o dia coporativamente burocrático lhe doía nas retinas. Apesar do horário de verão que a animava ligeiramente, estava cheia de dúvidas na cabeça e apenas duas ou três certezas.

Foi quando olhou para o céu e percebeu.

Girou levemente a cabeça para o lado esquerdo e reparou que a lua lhe sorria, cercada de um céu já firmado na noite. Respirou fundo e tirou a franja do olho. Já não importava mais...

terça-feira, 2 de novembro de 2010

1, 2, 3... e começa tudo ouuutra vez. A proposta agora é:

- Gargalhar com mais frequencia
- Respirar fundo sempre
- Trabalhar na minha lista das melhores coisas do mundo

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

La propuesta

Te propongo esta noche
llegar a un acuerdo,
un diálogo entre mi cuerpo y tu cuerpo
una conversación sin palabras,
un silencio de proyectos,
que tus dedos interpreten
el lenguaje de mis dedos.
Te propongo, simplemente,
alargar la caricia,
no planear la llegada a la cima
sino navegar con el remo de mis brazos
no utilizar para nada el salvavidas
ni que el tiempo detenga la mirada
dirigida a los botones de tu camisa.
Te propongo un pacto de susurros,
una tertulia de gemidos,
un monólogo de gritos,
que todo lo que no dijimos
en la piel permanezca escrito.
Te propongo una noche interminable,
lenta, muy lenta, tan lenta
que cuando nos interrogue la mañana
no sepamos quiénes somos
ni hacia dónde vamos,
como si aprendiéramos de nuevo a leer
igual que dos niños pequeños,
como si aprendiéramos de nuevo a escribir
sobre el pálido folio de nuestro cuerpo.
Te propongo una lectura corpórea
desde el prólogo de tus ojos
hasta el epílogo de mi boca.

Gloria Bosch

Do ótimo A Dança dos Erros

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

eu prefiro ser desequilibrada

Só ontem me certifiquei: o amor não é para os equilibrados. Definitivamente.

O amor que explode no peito e quando começa não tem hora pra terminar. Encanta e seduz, nos fazendo teimar cazuzamente pelo melhor. Cuida dos detalhes, faz carinho nas circunstâncias, abraça o inviável. Sorri das coisas mais simples. Briga até dizer chega, se necessário para que a paz se faça presente. Carrega pra cima e pra baixo a esperança de estar de mãos dadas com a pessoa amada eternidade afora. Não se importa com defeitos que parecem enormes à primeira vista. Dá vontade de ter sempre aqueles cabelos para acariciar. Inaugura gostos e sensações a cada novo olhar.

Torço, portanto, para que eu continue desequilibrada para sempre. E, quem sabe, ter todos os dias aquele bom dia com a cara amassada do meu lado?

--

Brighter than sunshine

Aqualung

I never understood before
I never knew what love was for
My heart was broke my head was sore
What a feeling

Tied up in ancient history
I didn't believe in destiny
I look up you're standing next to me
What a feeling

What a feeling in my soul
Love burns brighter than sunshine
It's brighter than sunshine
Let the rain fall I don't care
I'm yours and suddenly you're mine
Suddenly you're mine
And it's brighter than sunshine

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

deixa o verão pra mais tarde.

Agora a febre é aqui dentro. Não há vacina. Existem raras chances de que eu consiga me libertar disso nesses dias corridos e cheios. O papo com a amiga de longe também foi longe. Os pensamentos viajaram até a lua para tentar achar uma dimensão para o raciocínio. Não há.

Não absorvo mais as leituras, as vozes das pessoas sérias, as campanhas políticas. Não sei mais o que é concentrar-se em mim (o pensamento é fixo em outro). Não escolho mais as fantasias certas e as meias que não rasgam durante os bailes. Não enxergo o que há de errado. Não lembro como é desatar o nó na garganta. Não sei qual é a vacina para isso. Não faço as distinções entre sentimentos dos outros.

É uma revolução do não. Espaçosa e incompreensível.

Me preparo, sim, para um período de cheias. Enquanto não chega, desisto como quem deixa o verão pra mais tarde.

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Não tô muito afim de novidade
Fila em banco de bar
Considere toda hostilidade
que há da porta pra lá

Enquanto eu fujo você inventou
qualquer desculpa pra gente ficar
E assim a gente não sai
que esse sofá tá bom demais
Deixa o verão pra mais tarde

(Deixa o verão pra mais tarde, R. Amarante)

terça-feira, 21 de setembro de 2010

falta luz e sobra pensamento idiota

A luz acabara mais uma vez enquanto chegava em casa. Suspiro. É um misto de vontade de xingar a companhia de energia com desejo de chorar porque alguma coisa poderia ter dado certo naquele dia. E o jeito de subir as escadas com a iluminação do celular vagabundo. E o toque nas paredes geladas. E o tropeço naquele degrau fininho que está sempre ali e insiste em tornar as coisas ainda piores.

É, o dia foi um bocado difícil, cercado de pensamentos imperfeitos.

Abriu a porta. O janelão da sala permitia que a lua iluminasse a parede branca atrás do sofá. O estoque de velas nas gavetas tinha acabado e não era possível fazer outra coisa senão pensar.

Chegou no quatro apalpando paredes, estante, fotos. Deitada, só lhe restava encarar aquela escuridão imensa. Queria brigar com aquelas idéias absurdas e demais caraminholas que a tinham dominado. Chorar não vai adiantar. ‘Você precisa controlar o que está dentro de você’. Já não era sem tempo. ‘Tomaria um banho agora’, pensou.

Silêncio.

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.

.

.

Olhava pro teto, a escuridão não terminada nunca. E os pensamentos...

O problema era a sua vocação de não se acomodar com o que lhe incomoda. Falar demais, ir além do normal porque alguma coisa lhe dói. Quer resolver tudo numa tacada só. Mobiliza suas forças para dissipar suas dores. Mas... ‘há muitas coisas em seu coração que nunca se deve contar a ninguém’, pensou. Como os pesadelos, quando eles insistem em te assombrar.

Respirou pausadamente, tentando entender tudo e, com sorte, calcular quanto tempo de escuridão ainda teria de suportar. Pensou em amor, flores, cartas, saudades, tristeza e solidão. Tudo na balança, não fazia sentido se chatear tanto.

Silêncio de novo. Mais respiração (como a gente esquece de respirar durante o dia...). E a luz voltou. Bem a tempo de ela entender que o amor é tão maior...

Deu graças a Deus e foi tomar seu banho.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

(a falta de) procedimento.

Na gaveta do criado-mudo, o meu estado de espírito grita. Ao abri-la, vejo aspirinas, um guia de viagens, fotos antigas, poeira e um pequeno livro de poesias aposentadas.
Não sobra tempo para renovar o que há lá dentro da gaveta – quem sabe colocar fotos cheias de sorrisos, um livro feliz e um vaso de flor na estante?
É que tenho me sentido um desastrezinho que se esparrama pelo chão. Um punhado de açúcar que cai pra fora da xícara.
Pre-ci-so de procedimento.



terça-feira, 24 de agosto de 2010

amor aos detalhes.

Um aperto dói no peito e o coração perde um pouco do pulso, quase saindo pela boca. É quando você me diz coisas em primeira pessoa. A sua pessoa... E eu tentando rebater que o “nós” já é. Quero sumir. Quem sabe desaparecer de-pressa? É um estar de quando o sinal não abre logo para atravessar a rua. E é uma rua longa, que toma longos minutos para ser atravessada. Somo a isso a sensação de que a vida anda mais rápido que minhas pernas e não dá tempo de assistir a nada. E você ali do meu lado, segurando minha mão, a gente cultivando sementes. Mas para onde vamos?

E enquanto esperamos a vida deslanchar, queria uma lua gigante no céu e um clima agradável pra continuar a feliz com você, dizer eu te amo e ouvir eu também, receber um carinho no rosto enquanto um vento derruba uns fios de cabelo no meu rosto e você o tira com suas mãos. E se a lua não vem, eu poderia desejar apenas um sol para iluminar tudo e nos dar aquela cor bonita que só os apaixonados têm no rosto.

Quem sabe estar de mãos dadas com a sorte sempre? Ajudaria... E ter um Deus por perto para, em todos os momentos, me contar como as coisas funcionam e por que a vida demora a acontecer. Quem sabe sorrir mais do chorar e trabalhar menos do que ir ao cinema com você? E que tal pensar menos nos problemas e mais na batalha que enfrentamos pra chegar até aqui?

Eu só queria abraço e compreensão de sobra. Isso, sim. Sorrir sem motivo, encontrar motivos banais para cantar pelas ruas, olhar menos no relógio, sentir menos a dor incômoda no estômago, pensar que a saudade é só um estado provisório a ser modificado na próxima viagem pra casa. E o principal: queria que você entendesse que o amor é uma casa que pre-cisa de cuidados e atenção aos detalhes. E eu quero minha casa bem cuidada.

domingo, 8 de agosto de 2010

Hoje, mais de uma vez, me perguntei se eu deveria chorar por nosso filme estar no "pause" há algum tempo. Refleti se deveria tentar me comunicar com você ou deixar um recado na sua caixa novamente, como nos anos anteriores. Até tentei me comover, fuçando algumas gavetas, onde encontrei seu livro de poesias baratas. Revolvi algumas fotos da gente sorrindo em festas ou finais de semana felizes e, com muita imaginação, quase pude sentir seu cheiro característico. Não chorei, graças a não sei o que. Estranhamente, a vida me deu essa calma preciosa para encarar a saudade que eu tenho daquela pessoa que você foi, porque essa pessoa que você é hoje não me faz sentir nada. Mesmo com todas as circunstâncias, eu amo seu eu anterior de um jeito bem forte e potável. E faço um esforço para que todas as manhãs eu pense apenas nas coisas bonitas que você me disse na época em que você fazia um personagem mais digno. Em seguida, eu junto as mãos em oração por você, apenas torcendo para que seja e esteja feliz, como pediu quando se afastou. E o filme continua...

segunda-feira, 26 de julho de 2010

com a cabeça longe...

Às vezes, longe de você, tenho composto os nossos diálogos. Na minha cabeça, sei todas as falas de cor. Invento algumas frases que você jamais diria, mas que na minha imaginação você fala e refala e repete até que eu não me canso de me sentir cheia de amor. No meu sonho você é gentil sem-pre, até quando precisa falar algo espinhoso. Sempre escolho um vocabulário que lhe é adequado, palavras bonitas que se encaixam na sua voz e no seu humor peculiar. Na minha cabeça, sempre às seis da tarde, eu coloco minha blusa colorida e te espero até dizer chega. Mas eu nunca digo chega. Digo, sim, quero mais e mais e mais. Preparo a comida preferida e você chega com o vinho certo. Te conto dos meus trabalhos, você diz do seu, comenta das indignações, eu digo que pena, a gente se abraça de longe com os olhos – você na cadeira e eu encostada no balcão com o pé no joelho. Meu corpo diz eu te amo, o seu diz eu também eu também eu também. Nos abraçamos e o mundo todo fica pequeno. A busca por seus olhos nos meus e suas mãos nas minhas é incessante. Imagino como seria a vida sem a sua presença, sem a sua loucura ácida. Me imagino colada a você de um jeito bom, e nós dois juntos mandando o azedo das frustrações da vida para longe. Do sonho, coloco no papel tudo aquilo que vamos viver, com pinceladas especiais para seu sorriso gritante e predador. Te desenho com giz de cera e pinto de verde a fantasia que quero viver com você. Ontem mesmo pensei em todos os detalhes. Listei tudo, incluindo os tijolos que usaremos para construir os nossos sonhos. De longe a pintura ficou linda. E de perto também. E eu te amo.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Laura gosta de estar assim encantada com as circunstâncias. Até ontem ainda, achava que só a melancolia lhe caía bem. Mas o amor lhe cai ainda melhor. Ele lhe dá uma mão de um blush natural nas bochechas todas as manhãs, lhe rodeia de surpresas, lhe faz palpitar o coração com coisas simples, lhe faz sorrir à toa como se estivesse de rosto colado com alguém especial. A verdade é que começara, sem saber bem como, de um modo silencioso. Imperceptível. Até tentou se concentrar para controlar uma possível iminência de paixão. Não conseguiu. A concentração lhe escapou entre os dedos e a expressão ridícula invadiu seu rosto. Apaixonou-se completamente pela possibilidade de repousar suas mãos para sempre naquelas mãos. Entregou-se sem poréns.

domingo, 4 de julho de 2010

agree to disagree

His friend: Só, do you have a boyfriend?

She: No.

His friend: Why not?

She: ‘Cause I don’t want one.

His friend: Come on. I don’t believe that.

She: I don’t actually feel comfortable being anyone’s anything, you know….

His friend: I don’t know what you’re talking about

She: Really?

His friend: Nope.

She: Ok. Let me break it down for you.

His friend: Break it down,

She: I like to be on my own. Relationships are messy, and people’s feelings get hurt. Who needs it? You’re young. We live in one of the most beautiful cities in the world. Might as well have fun while we can and save the serious stuff for later.

His friend: Holy shit. You’re a dude. She’s a dude.

He: Ok, wait wait. What happens if you fall in love?

She: Well, you don’t believe that, do you?

He: It’s love. It’s not Santa Claus.

She: What does that word even mean? I’ve been in relationships, and I don’t think I’ve ever seen it.

He: Well, maybe that’s…

She: And most marriages end in divorce these days. Like my parents.

He: Mine too.

His friend: Me thinks the lady doth protest too much.

She: The lady dothn’t. There’s no such thing as love. It’s a fantasy.

He: Well, I think you’re wrong.

She: Ok, well, what is that I’m missing then?

He: I think you know it when you feel it.

She: I guess we can just agree to disagree

He: Yeah.

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Do filme "500 days with Summer".

quinta-feira, 1 de julho de 2010

em frente.

Não é de hoje que ela acorda assim, se sentindo vazia e com um gosto amargo na boca. Gosto de solidão, gosto de uma saudade forçada pelas circunstâncias.
Não é de hoje que ela pensa em como seria se você estivesse por perto, com aquele abraço carinhoso e aquela mania insuportável de falar enquanto o filme tá passando na TV.
Não é de hoje que o cérebro dela se condiciona a lembrar das coisas do passado, quando o sol brilhava mais forte entre vocês e ela tinha a sensação de que tudo ficaria simplesmente bem.
Não é de hoje que ela sente vontade de contar que aquele curso está terminando e que o trabalho está ficando cada dia mais do jeito que ela quer.
Não é de hoje que ela fica horas pra pegar no sono, queimando a massa cinzenta pra achar um jeito de reconciliar as emoções e os sentimentos entre vocês.

Não é de hoje, nem de ontem, nem de amanhã. É melhor que ela esqueça tudo isso e siga em frente.

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Ps - nunca é demais dar um toque pra que cada um cuide da sua própria vida.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

"é mesmo sutil a felicidade, raro diagnosticar sua origem, emerge com fúria de um som ou um cheiro ou uma lembrança. A felicidade é frágil, nem pensamos muito nela para não perdê-la"

Carpinejar, em Mulher Perdigueira.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

eu vejo além.

Porque eu olho pela janela e vejo além desse céu cinza, vejo além desses prédios de concreto desbotado e desgastado. Eu olho lá fora e vejo muito de mim aguardando pra ser reconhecido, desvendado, descoberto e sentido. Meus últimos tempos estão rasgando quaisquer certezas mais ridículas e fracas e se torna mais forte em mim essa sede que a alma não cansa de sentir e as mãos não cansam de procurar estrelas no escuro, porque embora eu não as veja, seu calor me direciona e norteia. Minha existência não acompanha o tempo natural das coisas mundanas...

"Você não pode voltar atrás no que vê. Você pode se recusar a ver. Até o fim de sua vida pode se recusar sem necessidade de rever seus mitos ou movimentar-se de um lugar confortável. Mas a partir do momento em que você vê, mesmo que involuntariamente VOCÊ ESTÁ PERDIDO" (Caio Fernando)

Do blog: Horas de Clarice.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Com freqüência penso na criação de uma máquina de abraços. Imagina só poder abraçar aquela pessoa que mais lhe faz falta em qualquer hora do dia?

Na minha cabeça, ela é portátil, do tamanho da palma da mão, fácil de manusear de forma que não há necessidade de manual de uso. Um botão e pronto: dois braços conhecidos me puxam em direção ao colo macio e amado. Mãe, pai, vó, irmã... o abraço de quem eu quiser ao alcance de um clique.

O mais importante é que uma máquina de abraços poderia exterminar a saudade ou ao menos torná-la rarefeita por algum tempo.

Me serviria um bocado, portanto.


segunda-feira, 7 de junho de 2010

Eu também tenho ideias.

Liberdade é uma palavra enorme. Por exemplo, quando terminam as aulas, pode-se dizer que uma pessoa fica em liberdade. Enquanto a liberdade dura, você passeia, brinca, nao tem por que estudar. Dizem que um país é livre quando uma mulher qualquer ou um homem qualquer pode fazer o que lhe der na cabeça. Mas até nos países livres tem coisas proibidas. Matar, por exemplo. Mas aí que está, matar mosquitos e baratas pode e vacas também, para fazer churrasco. Por exemplo, é proibido roubar, mas não é tão grave ficar com umas moedinhas quando Graciela, que é minha mãe, me manda fazer alguma compra. (...) Meu pai é um preso, mas não porque tenha matado ou roubado ou chegado tarde à escola. Graciela diz que meu pai está em Liberdade [o nome da prisão], ou seja, preso, por suas ideias. Parece que meu pai era famoso por suas ideias. Eu também tenho ideias, às vezes, mas ainda não sou famosa".

Beatriz, personagem de Mario Benedetti em Primavera num Espelho Partido.

Gostou? Aqui tem mais: http://migre.me/MBuC

domingo, 30 de maio de 2010

E quando você tem a impressão de que fala fala fala e nignuém parece te entender? É assim essa manhã de domingo: com gosto de café amargo e pão na chapa frio.
Tomara que o dia melhore.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

pra viver um grande amor

"Para viver um grande amor, primeiro é preciso sagrar-se cavalheiro e ser de sua dama por inteiro — seja lá como for. Há que fazer do corpo uma morada onde clausure-se a mulher amada e postar-se de fora com uma espada — para viver um grande amor.
(...) Para viver um grande amor perfeito, não basta ser apenas bom sujeito; é preciso também ter muito peito — peito de remador. É preciso olhar sempre a bem-amada como a sua primeira namorada e sua viúva também, amortalhada no seu finado amor.
(...) Para viver um grande amor é muito, muito importante viver sempre junto e até ser, se possível, um só defunto — pra não morrer de dor. É preciso um cuidado permanente não só com o corpo mas também com a mente, pois qualquer "baixo" seu, a amada sente — e esfria um pouco o amor. Há que ser bem cortês sem cortesia; doce e conciliador sem covardia; saber ganhar dinheiro com poesia — para viver um grande amor".


Vinicius de Moraes

(O Melhor de Vinicius de Moraes, p. 25)


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Fica aí a dica! ;)

domingo, 23 de maio de 2010

o vento vai dizer

O vento vai dizer
lento o que virá,
e se chover demais,
a gente vai saber,
claro de um trovão,
se alguém depois
sorrir em paz.
Só de encontrar

segunda-feira, 17 de maio de 2010

toc toc toc

Oi, pai
Estou escrevendo para saber se você está bem, se já fez os exames do coração, se parou de fumar e se está maneirando no trabalho e na gordura dos alimentos. Se você já fez aquele puta cruzeiro brega que tinha vontade e, se sim, recomenda? E sua mulher? Já se curou da bulimia e, se sim, já conseguiu engravidar?
Quero saber se você já aprendeu a ser mais macio com as palavras e, nesse caso, se já pensou no tempo que está perdendo com essa atitude teimosa de querer tão longe quem te quer tão bem. Seria bom ainda se você me contasse se a morte da menina Isabela faz algum sentido e se é certo crianças terem câncer ou qualquer doença doída pra chuchu. Me diz também: a saudade tem cura? Se sim, onde está guardada?
E, entre outros "ses", escrevo para te encontrar na minha memória. Afinal, você já está virando um simples fiapo de solidão aqui.
Espero que esteja bem.
Com amor,
Sua filha.

jeito de dizer eu te amo (1)

parada brusca:

Minha eterna e querida flor,

bate um vento nos cabelos dela - aquele friozinho típico do outono na avenida. é fim de dia.

Entre uma crise de consciência e outra de enxaqueca, hoje, escolho dizer que meu amor por você transbordou de mim. Escorreu pelos meus dedos. Escapou do meu controle. Fugiu da minha sensatez. Não sei se já te disseram e se você faz uma ideia disso, mas, quando isso acontece, fica difícil encontrar o fio da meada e trabalhar, andar, caminhar, pegar o ônibus, ler um livro ou escutar uma piada sem pensar-naquela--pessoa.

No caso, vo-cê.

segura na nuca dela. ela nada diz, pra não correr o risco de perder uma sílaba da boca dele.

E mais: pensei na imensidão de um amor insensato e imenso como esse. Bom, tudo preto-no-branco posso afirmar que isso acontece, de verdade verdadeira, poucas vezes com o sujeito. Na real: muita gente acha que é possível transbordar-se por aí, amando um e depois o outro... A equação é simples: pouca gente sente a 'parada' de verdade, no duro.

ela quase ouve um fundo musical. brota um fio de sorriso no cantinho esquerdo da boca, afundando suas covinhas.

Ter vontade de voar qualquer um tem ao ler um verso bonito. Agora: ter vontade de flutuar e levar outra pessoa contigo pra sempre... A vontade de ter os dedos de uma pessoa entrelaçados aos seus onde quer que esteja.. Pensar em combinações de nome + sobrenome... Sentir o pulso bater apressado ao ouvir barulho do salto que pode ser dessa pessoa. Bom, isso é uma coisa séria.

silêncio. o que se ouve são passos apressados, gente falando e o tiozinho distribuindo folhetos da lojinha que compra tickets-alimentação com taxas pequenas.

E posso dizer que minha "coisa séria" é você. Coisa pouca? Só se for o tempo que passamos juntos.

Abraço. Nada mais a dizer, sob pena de estragar o momento.

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Ps 1 - Possível declaração acontecida na entrada de um metrô da Av. Paulista - depois de um dia cheio de trabalho e dúvidas sobre o amor.

Ps 2 - Pode ser encenada sempre que necessário por qualquer par que se sinta transbordando.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

better together

Love is the answer at least for most of the questions in my heart

Tudo que é bom acaba?

É sempre assim. Em casa, o final de semana começa com o sorriso atravessando a face, de orelha a orelha.


O sábado cedo é repleto de comentários ainda sonolentos no caminho rodoviária-casa. O cheiro dos móveis me faz falta sempre e aproveito para senti-lo ao abrir a porta. O pão com café sempre à espera faz valer a pena a não-janta no dia anterior. O tempo dessa cena e é o tempo de me colocar a par do clima da casa.

A madrugada vai embora e o dia em si começa agitado, com toda a saudade que quer explodir pra fora. Parentes, visitas, bolos com cafés, abraços apertados, lágrimas de contos importantes, comentários soltos, sonhos divididos no caminho de casa, aquele cachorro-quente esperto e um boteco tranqüilo pra botar os papos em dia. É quando começo a colecionar abraços gostosos e sorrisos sinceros para que durem até minha próxima ida. Tudo fica pequeno, esqueço a correria e a conta bancária no vermelho, sorrio sem dor, flerto com a felicidade sincera e simples.

Já os domingos são sempre alegres, embora sejam dias em que meu relógio resolve trabalhar mais apressadamente. Casa da vó, com gente minha reunida, todos falando sem parar, piadas internas e externas. Matadouro de saudades funcionando a todo vapor. Até lavar a louça do churrasco me deixa feliz! Depois tem o futebol, com tios reunidos em volta de TV e por aí vai.

Mas vai chegando a hora e o sorriso desfaz a trégua. É domingo à noite e eu tenho que ir. Os tchaus tem gosto de saudade que vai doer a noite toda, latejar e lacrimejar a vista. Todos os abraços e bençãos deixam no ar um aroma de 'quero mais', inevitável. A vantagem da partida é a mochila cheia de guloseimas que a mãe sempre prepara – afinal, para ela, estou sempre abatida. Só se for de saudade...

A partida é uma realidade. Um sentimento delicadamente rude me invade e diz "a vida é assim, menina, acorde". Entre uma música e outra no iPod surrado, o sono vem me abraçando e o gosto de amargo fica pra segunda de manhã, quando a fumaça cinza volta a ficar sobre minha cabeça.

Bom dia?

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Um quê de andar nas nuvens

A amiga de unha vermelha diz a Luiza que seus olhos brilham de dar gosto. O seu amigo que mora longe lhe falou ao telefone que sua voz voz é dona de um veludo anormal, uma suavidade bonita de se ouvir. A irmã mais nova de Luiza lhe afirma por A mais B que as palavras do seu último email vieram coloridas.

Por que? Ninguém parece saber e, provavelmente, Luiza também ainda não, mas um acorde de sua música de todo dia desandou e Luiza desafinou de um jeito que não se explica.

E você sabe o que mais não se explica? O a-m-o-r.

Uma saudade de estar perto, se longe; de estar mais perto, se perto. Essa angústia de não saber quando o trânsito dará trégua e você verá a pessoa que te faz sorrir sem motivos aparentes (só por ser especial e ter um abraço que se encaixe perfeitamente nos seus braços).

É segredo ainda, mas, quando Luiza fala ao telefone, desenha corações ao invés de quadrados. E quando ouve uma música de amor acha que foi feita perfeitamente para ela. Anda cantando pela rua, checa as mensagens minuto sim e outro também, folheia os livros de poesia de quando era adolescente, vê nas estrelas seres cúmplices como há tempos não enxergava, não anda e, sim, flutua.

Tem coisas que são melhores quando não explicadas.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

grita pra sorte que ela vem.

Via de regra, Laura não é moça de recados. Ela ri e chora e, como toda gente de bem, fala o que pensa e sente e sem-pre vomita em cima de alguém o que lhe dói - sejam palavras, músicas, sílabas, atos doídos.


Justamente por este motivo tem a alma limpa e devidamente alvejada. Magoa algumas pessoas, às vezes, claro, sobretudo aquelas que não gostam de ouvir verdades. No entanto, não deixa nada enrugar sua testa, tirar seu sono, arrebentar seu coco e quebrar sua sapucaia.


Mesmo assim, a opinião de Laura é que a tarefa de ser feliz é um tanto complicada, quando forças maiores lhe enchem as paciências até conseguirem colocar a pulga atrás da orelha. Tem gente pra tudo nesse mundo.


O segredo – e aí, vale dividir com o mundo todo de pessoas de bem – é a técnica usada por Laura para deixar a coisa ruim de lado. Ela grita para a sorte, repetidas vezes, até que ela venha e se sente bem ao seu lado, lhe mostrando o caminho para a paz e para a felicidade que faltava pra encher o pote. E não é que funciona?

Por vezes, tem uma quase certeza de que não vai conseguir, mas tudo dá certo no final - se ainda não deu certo, é porque o final não chegou.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

O amor que brota da livraria

Ela gosta de livrarias mais do que uma criança gosta de algodão doce ou sorvete. Sonha em ser dona de uma, mas daquelas pequeninas, que abriguem livros especiais e seja freqüentada por pessoas que saibam que escolher um livro é uma decisão importante.
A paixão pegou fogo quando era ainda criança. Esperava pelo pai na saída da aula de dança e se abrigou da chuva em um sebo. O lugar era bastante modesto e trazia o cheiro característico de palavras em diversas línguas, papel e tinha velhos. Foi lá que a mágica aconteceu...
Um senhor que estava por lá lhe indicou um exemplar amarelado de Machado de Assis e lhe confidenciou que, se naquela idade, ela conseguisse ler o velho escritor brasileiro em poucos dias e com interesse, sua vida seria permeada por uma paixão febril por livros e nenhum seria suficiente para aplacar isso. O velho era um profeta e aquele livro seria apenas o primeiro.
Depois de Capitu, deu atenção ao Sargento de Milícias, conheceu a Moreninha, freqüentou O Cortiço e foi embora pelo caminho profetizado. Nunca mais deixou de parar em uma loja cheia de livros. Partiu para livros em outras línguas e para autores mais difíceis. Mas nada parecia conseguir segurar a tamanha vontade de ler e ler e ler tudo que fosse possível.
Quando vai a casas de amigos sem-pre passa os dedos pelas lombadas das obras. Quer conhecer todos os títulos possíveis. Como não poderia deixar de ser, ela moraria facilmente em um livraria e chegou a invejar de leve a autora que dormiu por uma semana numa livraria em São Paulo. Pensou em tudo que leria ao invés de pegar no sono se estivesse no lugar dela.
Hoje ela cresceu e trabalha perto de uma livraria toda especial, para onde foge todas as tardes na hora do café. E quando achava que já não tinha como amar ainda mais um lugar com livros dentro, ela participa do seguinte diálogo:


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Ela:

- Eu gosto de livros. Por isso, livrarias são templos para mim. Sou capaz de me demorar uma vida aqui.


Ele:

- Você fica linda em qualquer lugar, mas aqui dentro... fica mais.



Sorriso de orelha a orelha. Um ou dois minutos se passam e ele continua olhando firme para ela. A franja dela não colabora e fica caindo no rosto.



Ela:

- Acho que vou levar esse. Ou aquele? Ou este. Ai, me ajuda?



Ele dá mais um minuto, pensativo.

Ele:

- Mando fechar a porta e compro a livraria pra você. Que tal?



Foi nesse momento que ela se apaixonou por ele. Ela acredita que o clima do local ajudou para isso.

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segunda-feira, 12 de abril de 2010

Intersecção

no silêncio do infinito
vasculho por mim
gotejo sonho escaldante
em bolhas multicores
arco-íris que morde o próprio rabo.

com a cortina dos olhos fechada
escondo meu olhar
e assisto, nos bastidores,
ao espetáculo da minha errância interior.

dois infinitos redondos se tocam
e eu sou resultado dessa mistura
o lado de dentro
e o de fora

faço um círculo no chão

e corro viver.

do meu amigo que faz poesia para poucos e bons
Rodrigo Fregnan (em Alfabeto de Ventanias).
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quarta-feira, 31 de março de 2010

Pendências

Danilo esperava Marina an-si-o-sa-men-te, como quem espera a resposta de uma entrevista de emprego promissora – achando que tinha feito o seu melhor, mas ciente de que a decisão final não lhe cabia.

Depois de meses de palpitações e vontades de ser feliz, depois de todos os pedidos de amor correspondido enviados por todos os cupidos possíveis, depois de toda a excitante indecisão de Marina, depois de tudo que Danilo passou para ficar só com e-l-a... Passados todos os depois possíveis, Marina lhe comunicara que estava certa de que queria mesmo era se jogar com ele, ser feliz, sorrir sem parar enquanto o infinito permitisse.

Marina sussurrou isso ao telefone e Danilo mal acreditou. Pediu a todos os deuses do amor que lhe beliscassem para ver se estava, de fato, acordado, vivo, respirando. Estava. Ela pedira um encontro para que selassem, enfim, um pacto de amor e pudessem seguir seus caminhos juntos.

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Mas Marina não chegava nunca. Estava meia hora atrasada. Danilo já sentia novamente a desilusão batendo à porta de sua consciência. Seu coração talvez não suportasse a dor de um novo tombo e, por isso, não sabia o que o trazia ali. Preferiu arriscar, com as esperanças de não se decepcionar.

Quarenta e cinco minutos. Nada.

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Foi quando Danilo viu Marina despontando no horizonte e trazendo consigo marcas da luz solar em seu vestido azul. Tinha os cabelos soltos que sacolejavam pelos ombros, bagunçando a concentração de Danilo. Seus olhos levemente pintados, sorriam de leve, com ar de ofegante. Ela mordia um cantinho da boca, como sempre fazia quando estava pensativa. Suas bochechas rosadas mostravam inquietação. O peito urgia, parecia que o coração queria dizer alguma coisa:

- Desculpe o atraso. Fiquei enrolada no trânsito das ruas, dos faróis... de mim – explicou ela.

O sorriso de Marina dizia tudo. Danilo respirou, enfim.

- Nenhum trânsito importa agora que a mulher mais linda do mundo chegou – suspirou o coração apaixonado de Danilo.

Nada mais ficou pendente.