sábado, 30 de agosto de 2008

Paixão pelas palavras


Faz uns dias, terminei de ler A Menina que Roubava Livros, de Marcus Zusak. Ok, é um "best seller", hiper-mega-vendido em todo o mundo blá blá blá. (Tem até gente que fala que é perda de tempo ler esses livros). Mas quem me conhece sabe que leio tudo que não é auto-ajuda (afinal, ema ema ema - cada um com seus problema!) .

Meu interesse pelo A menina... surgiu com o desenho da capa. Confesso! Sou facilmente fisgada por rótulos até de shampoos, que dirá de livros! Achei a capa bonita mesmo. Abri o livro e a primeira dupla de páginas também me seduziu - a bela imagem de uma estrada cheinha de neve com pinheiros acendeu algumas memórias antigas... Aparências de lado, a história não é lááááá essas coisas... Mas, como diria o saudoso poeta Fregnan, "passa de ano".

Liesel Meminger, a menina, é tão ou mais intrigante que a cara do livro. Ela sofre um sofrimento digno de Segunda Guerra Mundial! Perde o irmão, a mãe a deixa para ser criada por outra família, a mãe postiça é meio cuzona, o pai-postiço vai para a frente de batalha, o melhor amigo de infância morre, o amigo judeu escondido no porão tem que deixar a cidade, e assim vai. É só porrada mesmo! No meio de tudo isso, a Morte, que conta a história em primeira pessoa, se admira com a força da menininha.

De bom mesmo, a história conta a paixão de Liesel pelos livros, pelas palavras. Além de fazê-la roubar livros, esse amor faz a pequena contar sua própria história escrevendo. Conforme seu sofrimento acontece, ela escreve. (Ring any bells?). A cena mais bonitinha é quando Liesel entra pela primeira vez em uma grande biblioteca (cena esta muito semelhante com minha primeira passagem pela Bienal do Livro).
Vale a pena ler, olha só


*

"- Jesus, Maria...
Ela o disse em voz alta, com as palavras distribuídas por uma sala repleta de ar frio e livros. Livros por toda parte! Cada parede era provida de estantes apinhadas, mas imaculadas. Mal se conseguia ver a tinta. Havia toda sorte de estilos e letras diferentes nas lombadas dos livros pretos, vermelhos, cinzentos, de toda cor. Era uma das coisas mais lindas que Liesel Meminger já tinha visto.
Deslumbrada, ela sorriu.
A existência de uma sala daquelas!
Mesmo quando tentou apagar o sorriso com o braço, percebeu no mesmo instante que era um exercício inútil. A menina sentiu os olhos da mulher percorrendo seu corpo e, quando olhou para ela, haviam pousado em seu rosto.
O silêncio foi maior do que Liesel jamais imaginara possível. Esticou-se como um elástico, prestes a se romper. A menina o quebrou.
- Posso?
A palavra ecoou entre acres e acres de terra deserta, com um piso de madeira. Os livros estavam a quilômetros de distância.
A mulher fez que sim com a cabeça.
Sim, pode.
A sala foi encolhendo sem parar, até que a menina que roubava livros pôde tocar nas estantes, a poucos passinhos de distância. Correu o dorso da mão pela primeira prateleira, ouvindo o arrastar de suas unhas deslizar pela espinha dorsal de cada livro. Soava como um instrumento, ou como as notas de pés em correria. Ela usou as duas mãos. Passou-as correndo. Uma estante encostada em outra. E riu. Sua voz se espalhava, aguçada na garganta, e quando ela enfim parou e ficou postada no meio do cômodo, passou vários minutos olhando das estantes para os dedos, e de novo para as prateleiras.
Em quantos livros tinha tocado?
Quantos havia sentido?
Andou até o começo e fez tudo de novo, dessa vez muito mais devagar, com a mão virada para frente, deixando a palma sentir o pequeno obstáculo de cada livro. Parecia magia, parecia beleza, enquanto as linhas vivas de luz bilhavam de um lustre. Em vários momentos, Liesel quase puxou um título do lugar, mas não se atreveu a perturbá-los. Eram perfeitos demais."
(A Menina que Roubava Livros - Páginas 122-123)
*
Compartilho com a protagonista da história a mesma paixão pelas palavras e a mesma dedicação em aumentar minha coleção de livros. Não os roubo, é claro, mas minha conta bancária costuma ficar no vermelho cada vez que entro em um sebo ou uma livraria.



2 comentários:

Larissa Saram disse...

Eu esqueci de te falar que a o enredo desse livro foi baseado na história de vida da mãe do autor.
Liesel existiu.

Beijos

Rachel disse...

oi, td bem? posso entrar? prometo não fazer barulho .... hihihhih já até comentei com a Laris, se não me engano Verenet´s, queria ter este gosto que vcs têm pelos livros. Invejinha da boa mesmo, da paz. But, tenho sono! E me interesso mto pelas capas .. acho que pq trampei numa editora por um tempo .. acompanhando toda a criação final ... hahaha Bjocs