terça-feira, 25 de novembro de 2008

São Paulo, 25 de novembro de 2008.

Minha querida,

Hoje é seu dia mais uma vez e bem sei o quanto você gosta de comemorar suas novas primaveras... E, também por isso, mais uma vez uso o meu 25 de novembro para lembrar de quando nos conhecemos e de como temos nos tornado mais e mais próximas, mesmo há exatos 540 quilômetros de distância.
Quando te vi pela primeira vez, seu rosto contabilizava somente umas 13 sardas marrons que se destacavam na combinação com o cabelo muito loiro. Contei uma a uma, sim. Ninguém sabe disso, só você agora. Elas se espalhavam apenas abaixo dos olhos, no centro da bochecha, parecendo um blush em forma de bolinhas esparsas. Eu era pequena ainda, mas nunca esqueci como seus olhos, com a forma de duas jaboticabas e a cor de castanhas, não sabiam onde olhar primeiro. Da mãe pro pai, do pai pra irmã, da irmã pro travesseiro já batido pelos apertões que você dava nele, seu "Panãno.
Diferente de mim, você demorou pra começar a falar e sua forma mais prática de comunicação era chorar quando queria que o Panãno secasse rápido no varal. Mas você era muito esperta (e é). Nos restaurantes, costumava deixar a mãe desesperada quando sumia da mesa e voltava sorrindo nos braços de um garçom que, desavisado, havia lhe tirado da cozinha. De anjinho, só tinha os cabelos enroladinhos mesmo, que lhe renderam até um apelido carinhoso.
Lembro também, ainda com aflição, quando você (com apenas meia dúzia de anos) desapareceu de perto de nós naquela loja no meio do calçadão e cheia de gente fazendo compras de Natal. Evaporou! A mãe cumpriu o protocolo e se descabelou, a vendedora rezou e eu não sabia o que fazer, chorando, claro. Até que lhe encontrei numa gôndola de sapatos, provavelmente, observando as cores que você ia preferir quando crescese e se tornasse esse mulherão que tem mais personalidade do que juízo. Abracei você bem forte com um medo danado de perder o que você é, sua companhia silenciosa e suas sardinhas. Elas que aumentaram em profusão conforme chegaram seus aninhos!! Hoje você tem mais de 100 e elas ocupam sua testa, suas bochechas inteiras, nariz, olhos, queixo e sobram algumas até para seus lábios. Tomaram seu corpo na mesma proporção que a beleza, uma beleza bem genuína e sincera, que reflete o que você é.
Acontece que crescemos (você, até mais que eu), seguimos caminhos diferentes e, infelizmente, já não consigo mais contar as suas pintinhas. De longe, tento apenas administrar o medo que ainda tenho de perder sua companhia, seus olhos de jaboticabas ávidos por um conselho, seus cabelos longos e que mudam sempre de cor, e suas pontas dos dedos hereditariamente quadradas.
Minha sorte é que, apesar da distância, nossa relação ganha uma dimensão cada vez mais bonita. Seja no silêncio da madrugada quando você me busca na rodoviária ou no barulho do boteco em que a gente senta pra fofocar, aprendemos muito uma com a outra sem nem perceber. Assim, me orgulho muito de ser sua irmã, amiga, companheira.
E então só me resta desejar, mais uma vez, que sua vida seja a mais colorida possível e que você consiga enxergar ao menos um arco-íris por dia, apesar dos problemas que insistem em acontecer e que nos chateiam tanto. E, quando você não ver a luz no fim do seu túnel, conte comigo pra achar uma forma mais fácil de transformar os imbróglios em passos de uma música trance (que você tanto gosta e que até tentou fazer com que eu gostasse).
Te amo mais que o arroz-doce da mãe.
Se cuida sempre.
Um beijo,


Tábata, 21 anos e mais de 100 sardinhas no rosto.

3 comentários:

Larissa Saram disse...

Ai que lindoooooo!!!!!
Amor de irmã não muda nunca!Parabéns pra Tábata!

bjseuqeueriasersardentinhatbm

Anônimo disse...

Obrigada por me fazer cair em prantos aqui ... hahaha!
Eu adoro as coisas que vc escreve,e eu num tenho tanta sarda assim não auhauha credo odeio =/

EU TE AMO

beijo.

Rafaela Manzo disse...

Veuris:
Eu tinha lido ontem à noite seu texto, como faço antes de dormir pelo black-meumundogiraemtornodele-barry. rs
Achei lindo, lindo. Lembrei demais da minha relação com a minha irmã. Enquanto mais velhas, temos uma espécie de dever de cuidar, proteger, ensinar, ser espelho. Apesar das diferenças e das brigas, que entre irmãos há sempre, o que fica no final é isso. Amor puro. Genuíno. Simples e incondicional. É lindo de ver. Lindo de acompanhar. Suas irmãs são umas abençoadas por ter você perto - não fisicamente todo o tempo, mas do coração sempre.
Adoro o que vc escreve. Faça mais. Sempre. Assim: lindo e forte. Beijomeliga