domingo, 6 de julho de 2008

Terra de ninguém.


Não se dava mais ao luxo de ser contraditória. Havia descoberto coisas mais paradoxais que o próprio umbigo: a metrópole onde escolhera morar. Um lugar que, diante de todas as cidades do mundo, abriga um pedacinho de várias culturas. Do alto dos seus mais de 400 anos, essa metrópole é um mundo novo para alguém novata de sensações e experiências. A única coisa que, de fato, não tinha nada de novo era o ar da cidade. Haveria de lembrar saudosa das noites e dias em que o tinha o prazer só de olhar o céu. A cidade desvairada já não mais assustava, porém era paradoxal. Um paradoxo que ultrapassa a contradição existente entre as estações Palmeiras/Barra Funda e Corinthians/Itaquera ou as diferenças gritantes entre a beleza dos bairros da Zona Leste e da Zona Sul. Para os incautos, a cidade parece inspirar uma agitação mútua das pessoas ao mesmo tempo que expira um incompreensível ar de solidão - ao som dos famigerados mp3, mp4 e mp5 players já em domínio de variadas classes. Mesmo assim, o paraíso é extremamente belo. A novata está disposta a dormir tarde, acordar cedo, correr atrás de ônibus, metrô, lotação, comer mal, viver cansada, cansada, cansada... cansada de não ver mais a lua. Para uma pessoa cheia de sensações e de espírito paradoxal, a cidade lhe parece bem acolhedora.

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