quinta-feira, 17 de setembro de 2009

divorciar coisas boas das ruins

Ontem vi uma cena que me chocou. Não porque tinha drama, lágrimas ou desespero, mas porque NÃO tinha drama, lágrimas e desespero.
Um homem de 37 anos com cabelos já se despedindo da cabeça, bigode farto e com cara de bem-sucedido na vida estava ligado a uma máquina de diálise - sim, aquele aparelho que a faz a função dos rins quando eles estão capengas e doentes. Os fios (já completos de sangue) daquela geringonça se enrolavam em seu braço até chegar a uma fístula, uma mini-maquininha que é colocada dentro do braço das pessoas pra facilitar o trabalho da máquina maior. Uma agulha gigante que, só de lembrar me causa tremedeira, vai até dentro da veia e tira tudo que é sujo e que já não combina mais com o sangue. Faz o divórcio do sangue e da sujeira - uma separação sem traumas. É uma rotina de 3 a 4 horas diárias, 3 vezes na semana - ritual sagrado sem o qual não dá praquele homem viver.
Não sei você, mas sempre imaginei um cenário desolador para uma cena dessas. Horas presa a uma máquina e a uma agulha ao lado de gente doente? É de dar medo... E o medo é uma casa aonde nin-guém vai. Mas não. O homem da minha cena estava tranquilo, lendo um exemplar do Valor de cabo a rabo e, eventualmente, checando mensagens em um celular moderno. Ou seja, o mundo estava prestes a cair do seu lado, com pessoas de semblante baixo, bandejinhas de remédios, cores de hospital e enfermeiros a mil... e o homem sequer se abalava, imerso num mundo que ele criou para aguentar o tranco das agulhas gigantes e do tal divórcio sanguíneo. Quando acabou seu ritual, se levantou, colocou o celular no bolso, dobrou o jornal e partiu com um sorriso de canto de boca de "missão cumprida - vamos em frente". E daí que me choquei com a falta de drama do homem, apesar das agulhas, do cenário e tudo o mais.
E eu achando que meus problemas eram imensos e irresolvíveis a ponto de pensar que nunca seria capaz de divorciar coisas boas e ruins. Se ele consegue sair sorrindo de uma sessão de hemodiálise, pronto para um dia de trabalho, por que eu não posso sorrir mesmo quando estou com problemas? Não conheço o malandro, mas ele me apontou que tudo vai dar certo. E o melhor: pelo menos eu não tenho uma agulha no meu braço!!

2 comentários:

Anônimo disse...

às vezes é bom um choque de realidade né?
bjs
D

Anônimo disse...

Hummmmm! então que tal se divorciar destas sugierinhas que estão no seu coraçãozinho???? Deixe ele trabalhar por VOCÊ, e o resto..... se resolverá com o tempo.Conselho de quem te AMA muiiiiiiito. beijos.