sexta-feira, 11 de setembro de 2009

a rotina

Ela estava só o pó. O dia passou a forceps, como o pozinho de uma ampulheta. Ao longo das horas, apesar do escritório ser grande e arejado, ela se sentia entre paredes de aço, num quadrado sem ar e sem esperança. Sentiu frio, calor, medo, frio de novo. Não se sentia uma analista e sim uma barata (como a de Kafka ou aquela da paixão segundo GH) depois de falar e falar e falar novamente para o cliente que aquilo não seria adequado, que era perda de dinheiro e certeza de insucesso. Foi esmagada. Por que as pessoas insistem nos erros, teimam em bater a cara de frente com um muro? Qual é a dificuldade de entender? Gastou saliva à toa, claro. E o chão lhe faltou, assim como o ar, a paciência, a cabeça no lugar, o bom senso corporativo.
À tarde suas sombrancelhas cerraram-se, o coração parecia que tinha parado de bater, mas não parou - se parasse, na verdade, não seria má ideia, porque a levariam dali. Não aguentava mais a baboseira toda e não tinha uma porta de emergência ao alcance.
Queria fugir, sim, mas o problema era mais profundo: ela não sabia pra onde. Um misto de melancolia e vontade de jogar tudo pro alto pra fazer algo que realmente lhe traria algo efetivo ou algo que não lhe faria pensar pensar pensar. Quem sabe ser astronauta e ficar sozinha lá no espaço? Ou ser babá só pra ter clientes que não sabem falar direito? E se ela se tornasse redatora de horóscopos? Motorista de táxi? Professora de digitação?
Tentou explicar pra alguns colegas o que sentia, mas falhou. Ninguém tinha o mesmo parafuso (ou a falta dele) que ela e ninguém podia entendê-la. Mas, como tudo que começa termina, o dia acabou e ela pegou o ônibus pra casa. Não pôde mais segurar e chorou. No ônibus lotado, o ombro de um homem bem alto estava perto de seu rosto. Ela precisava de um ombro e pensou em emprestar o dele. Mas achou melhor não. Chegou em casa sem olhar pros lados, lá não tinha ombros, mas tinha seu travesseiro. Deitou, enquanto ainda escorria uma última lagriminha de desespero.

2 comentários:

Dani_Hissamoto disse...

Vêe.. tenho sentido algo semelhante nos últimos dias, ler o que vc escreve me faz sentir mais normal dentro da loucura que esta minha cabeça.
Forçaa aíi!!
SAUDADES MINHA AMIGA!
Bjokas

Anônimo disse...

ô, meu, tem o meu ombro. O poBrema é se eu começar a chorar junto (o que não é mto difícil)...
bjs D