sexta-feira, 19 de março de 2010

a arte de ver no escuro

Incrível como o barulho do silêncio dentro da madrugada é confortável. Na pausa do sono para o xixi, tudo se resume a uma escuridão sem propósito, mas necessária – acender a luz pode significar a fuga do sono (e ninguém pode querer isso às 3h). No escuro a parede é tateada e sentimos, de verdade, o verde dos azulejos. No intervalo de poucos minutos, penso em como a casa dorme de um jeito lindo, carinhoso. Tudo de olhos fechados e retinas sonolentas.

Ontem, no recreio do sono, lembrei da casa antiga, onde, freqüentemente, eu errava a porta e entrava no quarto do pai que dormia de conchinha com a mãe. Aconchegava meu corpo no meio deles e me sentia assim: amada de um jeito especial, de um jeito que sentimos quando cabemos em colos impreterivelmente.

Perdi o sono, é claro. E, ao invés de contar carneirinhos, pontuei na clara escuridão do teto as saudade dos azulejos laranjas com detalhes em branco do banheiro de lá. Saudades do quartão grande com três camas, onde eu e as irmãs (medindo menos de um metro) vivíamos juntas. Saudades de achar a cama do pai e da mãe, sempre prontas a atender um pedido irrecusável de carinho. Saudades da simplicidade, compreensão e felicidade genuína.

Saudades de caber em colos. É isso.

2 comentários:

*Livia* disse...

Sim, tb sinto falta de qdo eu não tinha 1m!!! Pensava que ser adulta era um barato e agora só queria ter 10 anos de novo....hunf!
Bjooooooo

Amanda Proetti disse...

Tudo de um requinte por aqui, de uma sutileza q dá medo de tocar, de quebrar!

PARABÉNS pela essência!