terça-feira, 18 de novembro de 2008

Ontem, enquanto eu passava em frente ao metrô, vi um alguém muito parecido com você. Estranhamente muito semelhante a você, entende? As mãos eram grandes e as pontas dos dedos eram quadradas. O cabelo comprido faltava um pouco atrás, o sorriso era largo, o caminhar era lento, os traços, cansados. O jeito de pegar o cigarro, colocar a mão no bolso, guardar o maço novamente. Igualzinho em você. A camisa branca que você costumava usar também estava lá. Sem tirar nem pôr.
Esse alguém andava pela avenida balançando os braços e conversava com um outro alguém menos interessante. Só tive olhos pra você, ou melhor, pro alguém muito parecido contigo. O papo entre os sujeitos estava animado e isso me fez lembrar de quando conversávamos sem parar na volta do colégio. Você dirigia e eu perguntava qualquer besteira só pra ouvir sua voz e tentar copiar a maneira como você formulava as frases. Você desenvolvia o assunto, eu te olhava. Botava reparo em cada um de seus gestos, seus movimentos com as mãos e as mexidinhas cautelosas no cabelo que já caía (e acho que ainda cai). Quantas abobrinhas eu tive que ouvir só pra suprir essa minha vontade de aprender um pouco mais sobre o que se passava na sua cabeça!
Mas a saudade que tenho da nossa relação descoube no meu peito e me deu a grande idéia de mudar meu caminho habitual pra mirar mais um pouquinho o tal sujeito que copiava seu existir. E lá estava eu: novamente atrás de "você". O estranho sorria, caminhava, olhava para os lados, tragava o cigarro, existia... E, sem perceber, me fazia o grande favor de alimentar minhas lembranças com imagens "suas".
Acontece que eu estava mesmo atrás de coisas que me mostrassem que poderia, sim, ser você. Mas não era. Afinal, faz meses que não nos vemos... A chuva veio sorrateira, o tempo fez meu horário estourar e tive que voltar ao trabalho.
Peguei de volta meu caminho, mas, ao menos, agora eu tinha imagens "suas" fresquinhas na minha memória.

2 comentários:

Anônimo disse...

muito bom. legal de ler, como sempre.

Rafaela Manzo disse...

Você escreve pra cacilda, dona Veuris. Adoro quando o pé vermelho pinta novidade! ;)
saudadevoltalogoquetemnovidadeemudancaporaqui?