sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Vontade de tirar a barriga da miséria, de comer muitos limões sem fazer careta, atravessar a Paulista sem olhar pros lados, pegar o sol pela mão e sair passeando com ele à beira-mar. Vontade de conversar com deus e perguntar pra ele, de preferência tomando um chope geladíssimo, quem vai ser o campeão brasileiro este ano. Vontade maluca de engolir todos os filmes e ler todos os livros que tenho pendentes na minha lista. Vontade de contar a quantidade de sardas que a irmã mais nova tem no rosto, dançar sozinha enquanto espero o metrô, fazer aquelas tatuagens que planejei há séculos. Vontade de tirar as notas musicais do meu bolso para, enfim, aprender a tocar a sanfona do avô. Vontade de jogar luz nas lembranças mais lindas pra eternizá-las aqui na cabeça, transformar a segunda em sábado e a terça em domingo, e assim por diante. Trazer Londrina mais pra perto de São Paulo, a rua Dona Leopoldina mais perto da Capote Valente. Vontade. Meu coração e o delas. Vontade de pintar as unhas dos pés de vermelho sem ter vergonha de sair na rua com havaianas. Aprender aquela antiga receita, saber desenhar o que se passa dentro de mim pra não perder litros de saliva tentando me fazer entender. Vontade. Vontade de não mais escolher a fantasia errada, nem colocar máscaras que caem na metade da festa ou a meia fina que rasga só de relar. Vontade de ver as coisas chegando até mim menos doloridas, menos exageradas, com menos distorções familiares. Menos Nelson Rodrigues e novela mexicana. Vontade de não me cansar com a dimensão atual de meu raciocínio, de me desapegar das discussões com que sempre gastei palavras e tempo. Vontade de sambar em paz só eu, a melodia e os batuques de mãos dadas formando roda, de voltar do boteco sem o cheiro de cigarro na roupa e nos cabelos. Vontade de rancar as amigdalas com as mãos sem dor ou anestesia, e aproveitar pra tirar essa pedra que engoli quando ele foi embora no dia do meu aniversário sem olhar pra minha cara. Vontade de transformar o medo das coisas em uma paixão daquelas que escorre entre os dedos. Não ver as rugas da mãe aparecendo, as irmãs cometendo erros que já sei que vão doer, a afilhada crescendo e se desinteressando pelos livros infatis que levo pra ela toda vez.
Vontade, vontade, vontade. Sim, hoje é o meu dia mundial da vontade... de ser mais feliz.

4 comentários:

Anônimo disse...

é ruim desejar "feliz dia da vontade", então só elogio o seu texto. e compartilho algumas com você.

Meggy disse...

Vontade.
Vontade de estar em casa hj e não aqui, no trabalho.
Vontade de estar com Ele,
Vontade de estar mais perto dos amigos de infância, aqueles que eu sempre disse que me acompanhariam pra sempre.
Vontade de ligar pra ti, mandar um MIM rs rs e dizer que este foi o seu melhor texto, melhor dos melhores.
Ai vontade, vê se passa...
Um beijo Vê

Meggy Ryyyannnn

PS: O seu avô toca sanfona? O meu tb!

Larissa Saram disse...

Eu tô de TPM, entrei aqui, li esse seu MELHOR TEXTO e umas lagriminhas escorreram no meu rosto.

Eu NÃO queria que as coisas doessem tanto pra vc, eu NÃO QUERIA que coisas simples chegassem até você com um monte de espinhos que fazem sangrar.

Mas às vezes são escolhas e às vezes é a vontade do destino.

Segunda-feira quero te ver reclamando da derrota do Palmeiras e com um sorrisão no rosto,tá!?

Beijos

Verena Ferreira disse...

Laris, não me falta vontade de não reclamar da derrota do time do coração.
Mas... coração é assim! Sempre faz doer, né?


Meggysssssssssss, beijomemandaummimnasegunda!