sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Faz alguns meses que minha vida gira em torno de rodoviárias. Não porque eu amo viajar amassada, encolhida em poltronas fedidas e ouvindo gente roncando do meu lado ou falando muito alto sobre o Corinthians enquanto tento ler o mesmo parágrafo do livro 6 vezes. Mas porque gosto de visitar minha família e, pelo menos enquanto não inventam uma ponte aérea sem interrupções até Londrina, viajar de ônibus é infinitamente mais barato. Por isso, tenho uma vasta experiência com terminais rodoviários. Pelo menos era o que eu supunha, até virar a última página do Livro Amarelo do Terminal, de Vanessa Bárbara.

O livro, que surgiu do trabalho de conclusão de curso em Jornalismo dessa paulistana, retrata detalhes bastante cotidianos do terminal rodoviário do Tietê. Despretenciosamente, Vanessa me conduziu a uma viagem ao interior da maior rodoviária da América do Sul, revelando coisas às quais eu não daria atenção por mim mesma. Onde ficam os ônibus antes de atracar no terminal, como funciona o sistema de som, qual é o faturamento do banheiro, qual é a quantidade de cafezinhos e toneladas de pães de queijo vendidos por ano, quantas pessoas passam pelas plataformas no Natal, como é o serviço do balcão de informações. E vai além, quando deixa de lado o macro revela seu interesse por histórias anônimas - quem são os funcionários e as pessoas que passam por lá, quem vem de muito longe ou vai pra mais longe ainda, quem são os motoristas. Em um dos capítulos, traz uma "história oral do Tietê", feita a partir de fragmentos de conversas colhidas ao acaso enquanto apurava o trabalho. E outros trechos reproduz os recados do locutor Marcos, a voz da velhinha que pára no balcão de informações e pergunta: "Moça, onde é que eu faço inscrição para ir pro Iraque" e registra trechos dos hits musicais do Tietê.

E, se Vanessa me ajudou a perceber que eu não conheço tanto sobre rodoviárias quanto eu pensava, ela também confirmou minha idéia de que rodoviárias são, sim, uma "versão condensada" do mundo. O movimento repetitivo das pessoas que vão-e-vêm, a inconstância, a idéia de massas, a sensação de não-pertencimento, a vontade de retornar ao lugar de partida, o anacronismo dos personagens, a permanência - aquilo que nunca muda. (Igualzinho a mim!).

A partir de agora, vou olhar pra todos os lados sempre que visitar uma rodoviária.

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Em tempo: o projeto gráfico do livro é muito interessante! Com páginas (amarelas) de gramatura mais fina, o livro permite uma transparência maior. Por isso, as letras se sobrepõem um pouquinho e dão o tom da bagunça estética do Tietê. Uma outra parte do livro é feita em páginas que lembram papel-carbono, utilizado em alguns tipos de passagens. Só de folhear já vale a pena!

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Terminal Rodoviário de Londrina - pra onde eu volto sempre que quero sentir o cheirinho da minha mãe, comer feijão e arroz doce, descarregar minhas energias e visitar amigos queridos.

8 comentários:

Meggy disse...

Qual o preconceito contra o Curinthiaaa heimm! Não mexe não!
A Vanessa tá mega famosa, agora é colunista do Estadão tb néam?
beijoadoreiotexto

Anônimo disse...

legal. rodoviárias são cheias de história de outra época. no tietê, parece que os carregadores, todos de uniforme, são unidos no sindicato dos carregadores de mala do terminal do tietê, filiado à cut. por outro lado, em algumas rodoviárias é realmente bom você olhar bem para os lados, sobretudo à noite. e não é pra procurar personagens e outras histórias.

Anônimo disse...

Agora eu também vou le-errrr! :)
E a rodoviária de Londrina é linda. Nunca tinha visto.

A autora teve uma idéia sensacional. Minhas histórias de rodoviária são entre o terminal da Barra Funda e Sorocaba. Várias coisas bonitas/tristes/bizarras e legais de se lembrar.
Beijo!

Verena Ferreira disse...

bru, é coisa de linda de verrrrrr, não?

Larissa Saram disse...

Gente, faltou a dedicatória pra amiga que esmprestou o livro. Pras duas bonitas aí de cima!

Verena Ferreira disse...

Obrigada Larissa, que, além de me emprestar o Livro Amarelo, compartilha comigo a mesma livraria predileta de todas as horas de almoço e visita comigo sempre as mesmas prateleiras.

Unknown disse...

Aaaaaah, que linda!!!
Totem, Totem, Totem!

Anônimo disse...

Concordo com o primeiro pitaco =]
não mexa com o Cutinthiaa ta!!!!
Só pq os porcos perderam feeeio de 5 ainda por cima. haha to brincando.

Saudade,estamnos em contagem regressiva pra vcs chegarem.

TE AMO
fica com Deus.