quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Laura tem o vício de livrarias. Sempre que pode, dá uma escapulida pro outro lado da rua onde trabalha, na livraria que tem cara de supermercado de livros. Vai, exclusivamente, para folhear, sentir o cheio de gente mexendo com os livros, observar os olhos de quem engole linhas e linhas de texto de uma vez, mirar toda aquela imensidão de letras e vírgulas e parágrafos e pontos que poderiam dar várias voltas ao mundo se colocados lado a lado.
Gosta de exercer seu vício de preferência com nenhuma ou quase nenhuma companhia ao seu lado. Na verdade, a companhia ideal é o ambiente, a luz baixa, a estante cheia e, com sorte, um sofá que aconchegue sua vontade de sumir no mundo raptada por palavras. Sozinha, Laura tem um silêncio que ajuda a tornar o vício ainda mais excitante, mais revelador.
Faz pouco tempo, ela pegou a irresistível mania de ler dois capítulos de um livro a cada nova escapulida. Chega, retoma o livro de ontem, encontra a página onde parou e esquece o mundo ao redor. Quando acaba um, já elege o sucessor e assim vai. A vontade de engolir tudo o que pode de romances, poesias e histórias é tão grande que Laura já leu muitos exemplares. Termina um, começa outro e assim por diante.
Nessa rotina que não tem nada de rotina, Laura só pensa em um dia poder morar dentro de uma livraria, casar dentro de uma livraria, educar seus filhos dentro de uma livraria. E só pensa em como isso seria bonito.


Um vício de encher os olhos

2 comentários:

Nina disse...

nossa... q linguagem boa de ler... q sensação gostosa! seu texto tá lindo!!!!

saudade

Marcel Jabbour disse...

Boa!!

Fiz isso, do outro lado da rua onde trabalho, segunda e terça. Só não curto aqueles puffs, que me deixam com dor na lombar.

Poltroninha é beeem melhor.